A agricultura é desde há várias décadas um dos setores económicos com menor contribuição para o PIB com cerca de 1,6% de contribuição em 2021. Portugal segue a tendência da média da União Europeia, na qual os serviços, e nomeadamente o turismo, se têm destacado como de importância crescente para a economia. Este número representa uma tendência acentuada de descida, num setor que, em 1960, representava 21,5% do PIB.
Apesar do peso reduzido do setor da agricultura para a economia do país, a tendência de descida aparenta estar em ciclo de inversão, em virtude de um modelo de globalização que fomenta desigualdades e complexos problemas ambientais, sendo possível antever um aumento de produção nacional, consolidando a importância da agricultura na identidade do nosso país.
Um dos principais problemas que a agricultura enfrenta é a redução da precipitação que se tem verificado no Sul da Europa, particularmente notório em Portugal nas regiões a sul do Tejo, em consequência das alterações climáticas. Dada a pouca disponibilidade de água, opções como a melhoria e expansão das barragens e aquíferos, e o investimento em tecnologias de dessalinização tornam altamente improvável um futuro em que a água não seja muito mais cara.
A água é um dos principais recursos que afeta o output agrícola (sendo os outros as condições e nutrientes do solo, a temperatura e a disponibilidade solar). Ceteris paribus, i.e., mantendo todas as condições iguais – que em Portugal até são favoráveis a um vasto leque de culturas agrícolas, elevados níveis de precipitação (ao que se exclui a forte precipitação que pode causar estragos), trarão elevados outputs agrícolas a menores custos, uma vez que a maior disponibilidade de água (gratuita) fará aumentar a produção de praticamente todas as culturas.
A água potável tem um custo geralmente simbólico que varia de município a município. Este custo, que regra geral ronda os 3 euros por metro cubico, é um valor baixo, mas que de certa forma limita o consumo, tendo por base a quantidade consumida. Este não é, contudo, o caso da agricultura, onde a água é utilizada na medida da sua disponibilidade, através da livre extração através de furos e charcas próprias. A maior limitação é imposta pelos elevados gastos energéticos à sua extração, uma vez que a falta de precipitação e consequente disponibilidade de água, faz com que os custos de extração da mesma tenham tendência para aumentar. Num futuro onde se prevê que haja uma maior escassez de água barata disponível, torna-se fundamental a gestão e monitorização da sua utilização.
A necessidade de maior eficiência na agricultura é assim imperativa. É preciso utilizar menos recursos para produzir maiores quantidades, diminuindo assim o peso dos fatores de produção. A existência de ferramentas de gestão de água e energia será determinante para que seja possível medir, com rigor, o impacto de diferentes metodologias de produção, permitindo assim eliminar o desperdício e aumentar as poupanças de recursos.
As melhorias ao nível das tecnologias de sensorização, vieram permitir a possibilidade de gestão em tempo real dos consumos de água e eletricidade, aumentando assim o leque de ferramentas disponíveis com capacidade para auxiliar na sua gestão. Por outro lado, a utilização de ferramentas de estatística e análise de dados, com recurso a algoritmos baseados em machine learning e IA (inteligência artificial), complementam o enorme potencial existente para que as diferentes explorações e unidades agrícolas possam saber e prever, com um elevadíssimo grau de confiança, os seus consumos.
Por último importa destacar o papel dos consumidores, principalmente das novas gerações, que preferem apostar em produtos sustentáveis, estando inclusive dispostos a pagar um prémio por marcas que se destaquem pelas melhores práticas no que à eficiência e sustentabilidade diz respeito. Num mercado saturado pela abundância de produtos baratos, a diferenciação pode ser a chave para o triunfo das marcas mais arrojadas.
A mensagem é clara: a água e a energia abundante são recursos que se tornarão mais caros no futuro. O equilíbrio dos custos de produção será cada vez mais delicado e será fundamental a existência de ferramentas de monitorização que permitam não só o controlo de eventuais anomalias, como fugas ou utilização indevida, mas também a adoção de práticas inovadoras que permitam a diferenciação na qualidade do produto final.
A transição das economias de recursos abundantes e baratos para economias de sustentabilidade já está a acontecer e quem ficar para trás irá certamente sofrer as consequências. As boas notícias são, a evolução da tecnologia e as preocupações ambientais estão a trazer cada vez mais capital humano para empresas e start ups que lidam com a nova economia. Acresce a este facto, o próprio mercado estar cada vez mais recetivo a marcas sustentáveis que se destacam pelas suas preocupações ambientais. O futuro da agricultura nacional é desafiante, e os produtores que apostem na qualidade, e que consigam manter a sua estrutura de custos irão certamente prosperar.
Sérgio Queirós
CEO e Fundador da BE Bluenergy
sergio.queiros@blue-energy.pt