Miguel Carvalho, da Herdade da Escusa, tem esperança que a remuneração dos serviços de ecossistema permita atrair as próximas gerações.
No vale do Sorraia a agricultura é a atividade principal, pela fertilidade dos solos e muito devido ao regadio que ali se faz. Mas existem solos menos ricos, que dão origem a um montado de sobro e de azinho, e a outras espécies florestais, como o pinheiro manso, que quebram a paisagem maioritariamente preenchida por culturas agrícolas.
A Herdade da Escusa pertence à família de Miguel Carvalho, que é gestor da propriedade desde 2007, sempre com o objetivo de a manter o mais sustentável possível, não só em termos ambientais, mas também economicamente, pois sem retorno financeiro não é possível voltar a investir na floresta e manter a sustentabilidade pretendida.
Na ambição de ter uma gestão florestal ativa, alcançou em 2011 a certificação de gestão florestal FSC®, através do Grupo APFCertifica, à qual se seguiu a certificação em serviços dos ecossistemas de armazenamento e sequestro de carbono. Numa área florestal de 193 hectares, Miguel Carvalho tem, sobretudo, sobreiros e pinheiro manso, produz cortiça e comercializa pinhão e madeira. Mas os desafios são múltiplos. “Este é um setor altamente regulamentado, com leis que limitam um conjunto de ações, como por exemplo a plantação de outras espécies, como o eucalipto, que tornariam a minha atividade economicamente mais sustentável”, afirma o gestor.
A valorização pelos serviços dos ecossistemas que presta poderá ser uma forma de reconhecimento pelo trabalho desenvolvido em prol da sociedade, nomeadamente o sequestro e armazenamento de carbono, a proteção e conservação do solo e o combate à erosão, bem como a regulação dos recursos hídricos. A certificação, refere, “valida o trabalho que fazemos” e isso é “muito importante”. “Tudo começa com uma avaliação inicial realizada com base no inventário florestal, em que toda a propriedade é caracterizada.
“É um setor altamente regulamentado, com leis que limitam um conjunto de ações, como por exemplo a plantação de eucalipto, que tornaria a minha atividade economicamente mais sustentável”, afirma Miguel Carvalho
Depois existem obrigações nas operações. Devem ser utilizadas as melhores técnicas disponíveis para dar origem a uma melhor floresta. Isso não nos obrigou a grandes alterações na gestão da propriedade, pois já não realizávamos a gradagem, por exemplo, e remuneração dos serviços de ecossistemas, sendo de extrema importância para os investimentos que os produtores fazem”, pormenorizou Marta Souto Barreiros, diretora-geral da APFC. já tínhamos áreas de ‘conservação’”, refere Miguel Carvalho. Agora, com a certificação dos serviços de ecossistemas, tem é de manter maior controlo e registo de todas as atividades realizadas na área de conservação para a biodiversidade.
Embora ainda não esteja a ser remunerado pelos serviços dos ecossistemas, Miguel Carvalho tem “esperança de que este procedimento permita atrair as próximas gerações e ter acesso a outros rendimentos ou a algum tipo de compensação pela PAC, pois a floresta parece esquecida”, lamenta.
Nota: Este artigo foi originalmente publicado na revista nº 11, de setembro de 2023, no âmbito de várias reportagens sobre casos de áreas florestais com certificação de serviços de ecossistema. Pode descarregar e ler a revista, na íntegra, aqui.
BILHETE DE IDENTIDADE
ÁREA FLORESTAL: 193 hectares de montado produtivo e de conservação
GESTOR FLORESTAL: Miguel Carvalho
PRODUÇÃO FLORESTAL: Cortiça, pinhão e madeira
O artigo foi publicado originalmente em Produtores Florestais.