CONFAGRI. As características das várias raças agradam a todos. As carnes estão, por isso, a ser muito procuradas. A criação dos animais difere, mas o agricultor nacional respeita o bem-estar destes, preocupando-se com a eficiência produtiva e a sustentabilidade ambiental
A CONFAGRI – Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal, CCRL é a estrutura de cúpula de praticamente todo o universo cooperativo agrícola de Portugal. Tem a finalidade essencial de contribuir para o crescimento e desenvolvimento equilibrado e eficaz do setor cooperativo e, em especial, dos agricultores portugueses. Por isso, e no âmbito do tema deste especial, entrevistámos Idalino Leão, administrador da CONFAGRI e presidente da FENAPECUÁRIA.
Que importância ou peso tem a pecuária na economia nacional?
A atividade pecuária faz parte do imaginário coletivo português, que acontece nos mais remotos territórios nacionais, que por sua vez alavanca também um conjunto de outras atividades cada vez mais importantes para a economia nacional, como o turismo, em que o contributo para fixação de pessoas ao território é decisivo.
A carne criada em Portugal tem qualidade?
A carne em Portugal é de excelente qualidade, pois temos uma grande variedade de raças com características capazes de agradar aos paladares mais exigentes. Todas as semanas temos carne nacional a ser servida nos melhores restaurantes de carne da Europa e também assistimos hoje a um redescobrir das carnes nacionais pelos chefes e cozinheiros portugueses.
As pastagens em Portugal são de boa qualidade?
Em Portugal, temos várias formas de maneio dos animais. Alguns em pastagem, outros criados nas serras, outros estabulados. Mas, acima de tudo, o que importa transmitir é que o agricultor português respeita o bem-estar animal e se preocupa com a sua eficiência produtiva, bem como a sua sustentabilidade ambiental.
Quais são os desafios que enfrenta o setor da pecuária em Portugal?
Portugal é deficitário em carne, nesse sentido eu diria que o maior desafio é aumentar a produção e o consumo de carne nacional.
No setor da pecuária em Portugal aposta-se na tecnologia?
A pecuária nacional é moderna, tecnológica, e a zootecnia de precisão é uma realidade.
Pode falar-me um pouco dos controlos de qualidade a que a carne portuguesa de bovino, suíno,… está sujeita antes de ir para o consumidor?
A carne nacional de bovino e de suíno, além da extrema qualidade no sabor, é altamente segura para a saúde pública. Toda a produção em vida, bem como o manuseamento das carcaças e carnes, é controlada por técnicos externos da DGAV que garantem ao consumidor os mais elevados padrões de segurança alimentar do mundo.
Nos últimos anos tem havido alguma polémica porque estarão a aumentar as emissões de metano para a atmosfera com origem no gado criado para consumo da respetiva carne. Que comentário lhe merece esta situação?
As alterações climáticas são um tema incontornável das políticas futuras de qualquer país, mas é importante que se diga que são os agricultores aqueles que estão mais preocupados com este fenómeno. Aliás, quando se fala em descarbonização da sociedade é importante que se diga que o setor agrícola é o único que já contribuiu positivamente para esse objetivo de uma forma natural, pelos milhares de hectares de solos cultivados que servem de sumidouros naturais de carbono, gerando um saldo ambiental positivo e sustentável para todo país. Exigimos ser envolvidos no debate, pois consideramos que somos parte da solução.
Que impactos ambientais tem a produção animal em Portugal?
O saldo é positivo e isso é factual. Não podemos é cometer o erro de analisar o setor como se fosse uma “ilha”, isolado da sociedade. Não aceitamos que se queira fazer dos agricultores os maus da fita deste contexto. Pelo contrário, são os agricultores os verdadeiros arquitetos e ambientalistas da paisagem. Mas podemos e queremos fazer mais. Portugal deve apostar em equilibrar a sua balança comercial. Defendemos que as compras das cantinas públicas sejam mais sustentáveis. Importa que haja a coragem de definir regras nas quais as cantinas possam comprar produtos agrícolas locais, em que a variável distância do produto onde é produzido e consumido seja tida em consideração. Para tal, é necessário que o código da contratação pública seja alterado. Qual é o pai ou mãe que não quer os melhores produtos para os seus filhos? Haja coragem para implementar estas medidas, a produção nacional e o setor pecuário também farão o seu caminho.
O artigo foi publicado originalmente em Correio da Manhã.