Não será demais saber e lembrar que…
Este porqueiro do Alentejo (foto do acervo do Arquivo Distrital de Évora), tal como todos nós e os nossos antepassados, trabalharam todos os dias, também no Verão naturalmente, com temperaturas a rondar os 40º C, o que acontece por aqui nas condições Mediterâneas e no Alentejo, nesta época do ano…
Este homem, tal como tantos outros, mesmo antes da Protecção Civil e outras “organizações” do género, dos Costas, Marcelos e demais ”rapaziada” e etc., contribuiu com o seu “modus vivendi” para que tenhamos nesta altura mundo rural e tudo o mais a resistir aos incêndios, mesmo sem Protecção Civil, outras “organizações” do género, ministros em modo Costa e etc…
Nesta “chapa”, para além de tudo o que ela tem de extraordinário, está visível a cultura rural enraizada naturalmente em nós através das gerações, também na prevenção dos incêndios…
Este homem sempre trabalhou no campo na guarda das varas de porcos e também nos dias quentes de Verão, mesmo com temperaturas a rondar os 40 ºC, pq no Verão no Mediterrâneo e no Alentejo é assim e pq os porcos e toda a vida no campo não pára quando há calor…e fumava, o que o ajudava a passar o tempo…
Porém, tocava a ponta do seu cigarro com os dedos e deixava cair as cinzas na palma da mão, impedindo que as mesmas chegassem incandescentes ao chão, eventualmente num restolho…
Quem é do campo, entende perfeitamente e adopta, este e outros procedimentos que previnem e não permitem fogos no espaço rural que ocupa mais de 85% do nosso território, mesmo com as temperaturas altas de Verão que nos são comuns…
A maior parte dos incêndios e as calamidades deles resultantes, que infelizmente acontecem em espaço rural, não tem nada que ver com as actividades rurais nem com quem delas vive e nelas trabalha…tem que ver com outras “coisas”….
Assim, que todos os “costas” façam o favor de parar de nos tentar aculturar com medidas bizarras e que pela “mor de Deus” (um qualquer…), não se sirvam de nós e da nossa agricultura para tentarem tapar o Sol com uma peneira…
Deixem-nos trabalhar mesmo com calor que nós aguentamos e o ambiente connosco lá também aguenta, e não nos lixem (com F Grande), porque o perigo não vem de nós nem da nossa actividade no espaço rural…
O perigo vem sobretudo daqueles que desconhecendo por completo as realidades no mundo real, por incompetência e por outras razões também, não definem estratégias de ordenamento do território nem políticas que criem dinâmicas agronómica, ambiental e económica e socialmente sustentadas de forma a manterem o espaço rural humanizado e vivo e naturalmente resiliente, tal como se usa agora dizer, também ao fogo…
Professor na Universidade de Évora e agricultor