Uma exploração agrícola nos Países Baixos tornou-se a primeira no mundo a iniciar a produção de carne cultivada diretamente na quinta, através de uma parceria entre a RespectFarms, a EIP-Agri e a Província de Zuid-Holland. O projeto permite ao agricultor Corné van Leeuwen lançar a produção de carne a partir de células no próprio local, marcando um avanço decisivo na integração deste tipo de proteína em modelos agrícolas reais.
Nas próximas semanas, as unidades de produção instaladas na propriedade vão demonstrar a agricultores como produzir carne diretamente a partir de células e como incorporar este novo processo nas operações já existentes. A iniciativa conta com o apoio da European Innovation Partnership for Agricultural Productivity and Sustainability (EIP-Agri) e da Província de Zuid-Holland, e visa criar um modelo escalável para a produção descentralizada de carne cultivada.
A RespectFarms explica que o projeto combina tecnologia de agricultura celular com o conhecimento técnico de vários parceiros, desenvolvendo uma abordagem que mantém os agricultores no centro do sistema alimentar. “Estamos a construir um modelo onde os produtores pecuários continuam no centro da produção, não são substituídos por fábricas”, afirma Ira van Eelen, cofundadora da RespectFarms e da Cellular Agriculture Netherlands. Para a responsável, esta é uma oportunidade para que a transição proteica seja “justa, transparente e enraizada nas comunidades rurais”. Florentine Zieglowski, também cofundadora, destaca que a missão da empresa passa por acelerar a comercialização da carne cultivada “de forma descentralizada e em parceria com o setor agrícola, tecnológico e com a cadeia de abastecimento”. O cofundador Ralf Becks resume a ambição: “Reduzimos um problema global à escala de uma quinta. Quando funcionar, escalamos para o mundo.”
O interesse institucional é igualmente claro. Meindert Stolk, ministro regional da economia e inovação, sublinha que o projeto demonstra como a inovação em agritech e biotecnologia contribui para a transição proteica e cria novas oportunidades económicas. O responsável destaca ainda o impacto estratégico da tecnologia desenvolvida localmente e depois exportada, reforçando a liderança neerlandesa na produção alimentar sustentável.
A exploração agrícola de van Leeuwen já tinha adotado robots de ordenha e passa agora a integrar a carne cultivada como um novo modelo de negócio, tornando-se o primeiro agricultor no mundo a receber financiamento agrícola para esta atividade. A quinta funcionará como centro de teste real, permitindo perceber como a produção de carne cultivada pode complementar a produção pecuária tradicional.
Para van Leeuwen, a adoção desta tecnologia é uma escolha pragmática: “Como agricultor, temos de olhar em frente. Esta é uma oportunidade para perceber se um novo modelo de rendimento pode conviver com o que já fazemos. Produzir carne cultivada na quinta faz sentido por muitas razões; não experimentar seria perder uma oportunidade.”
O projeto prevê ainda a criação de um Experience Centre, com abertura marcada para a primavera de 2026, oferecendo a agricultores, decisores políticos e cidadãos a possibilidade de ver de perto como funciona a produção de carne cultivada. “As pessoas precisam de ver o que realmente está a acontecer”, reforça van Eelen. “É importante existir um espaço onde ciência, agricultores, cidadãos e responsáveis políticos possam aprender, debater e cocriar o futuro da produção alimentar.”
O artigo foi publicado originalmente em Vida Rural.













































