Há quem insista em colocá-los em lados opostos, como se o conhecimento académico e o saber empírico fossem duas margens inconciliáveis. Uma estaria revestida de teorias, métodos e modelos; a outra, de calos nas mãos, soluções improvisadas e decisões moldadas pelo ritmo da vida real. No entanto, para quem vive diariamente com um pé em cada território, esta divisão rígida não podia ser mais enganadora.
Eu próprio pertenço aos dois lados. Passo dias mergulhado em literatura científica, métricas, metodologias e indicadores. E, noutros, estou no terreno a lidar com máquinas, sistemas que falham, solos que contam histórias e realidades que não cabem em artigo nenhum. Esta dualidade não é um conflito; é um exercício permanente de tradução.
O conhecimento académico oferece profundidade, estrutura, capacidade de prever e explicar. É o espaço onde se desenha o “dever ser”, onde se clarificam conceitos e se transformam problemas em hipóteses testáveis. Mas quem vive apenas desse lado corre o risco de pensar o campo como um laboratório ideal, limpo de variáveis imprevisíveis, onde tudo se alinha com equações e tabelas.
O empirismo, por sua vez, é o reino do “é assim que funciona”. É a experiência repetida, o erro que ensinou mais depressa do que qualquer curso, a intuição afinada em anos de observação. Quem vive apenas nesta margem, porém, arrisca-se a ficar preso ao que sempre resultou, mesmo quando o mundo já mudou de lugar.
A riqueza está na ponte. É nela que tento trabalhar.
No campo, a teoria ganha corpo. Muitas vezes descubro que aquilo que os modelos preveem não resiste, à conectividade que falha ou à decisão urgente que precisa de ser tomada sem tempo para consultar gráficos. E, no meio académico, levo comigo a bússola da realidade, aquela que lembra que não basta o estudo mostrar que algo “funciona” se no terreno não houver condições para o fazer funcionar.
Viver entre estes dois mundos é desafiante, claro.
Mas é também esta dupla identidade que me permite ver que o futuro da agricultura, da gestão territorial e das políticas públicas não pode nascer apenas da academia nem apenas da experiência. Precisa da síntese. Precisa de conhecimento validado, mas também de conhecimento vivido. Precisa de investigação que escute o terreno e de praticantes que compreendam o porquê das soluções que lhes são propostas.
O segredo, afinal, não está em escolher uma das margens, mas em habitar a ponte. É nela que o conhecimento ganha utilidade e que a prática ganha futuro. Consultar aqui.
Fonte: APIC












































