A matéria orgânica do solo poderá servir como indicador global da saúde dos solos agrícolas, segundo um artigo científico publicado pela investigadora Isabel Brito, da Universidade de Évora, em coautoria com Michael J. Goss, da Universidade de Guelph (Canadá). O estudo, divulgado no âmbito da iniciativa Codex Planetarius, propõe um método acessível e cientificamente robusto para avaliar a qualidade deste recurso essencial à sustentabilidade dos sistemas agrícolas.
O artigo, intitulado “Soil organic matter as a global metric for soil health: integrating soil biology and agro-ecosystem management”, analisa os principais desafios associados à monitorização da saúde do solo — um elemento crucial para a produção de alimentos, a regulação climática, a conservação da água e a preservação da biodiversidade.
Os autores sublinham que “as crescentes pressões decorrentes da intensificação agrícola, das alterações climáticas e das mudanças de uso representam múltiplas ameaças para o solo e prejudicam a sua qualidade”. Perante este cenário, defendem que a avaliação e monitorização regulares são indispensáveis para orientar políticas e práticas agrícolas mais sustentáveis.
Embora os microrganismos desempenhem um papel essencial na fertilidade e estrutura dos solos, as metodologias existentes para medir a sua diversidade e atividade são, segundo os investigadores, dispendiosas e difíceis de padronizar, o que limita a sua aplicação em larga escala.
Neste contexto, Isabel Brito e Michael Goss sugerem que a matéria orgânica do solo — por fornecer habitat, nutrientes e energia para os microrganismos — pode funcionar como um indicador indireto, mas fiável, da saúde biológica dos solos. “A matéria orgânica do solo reflete de forma integrada os aspetos biológicos, físicos e químicos do solo”, referem os autores, acrescentando que a sua medição pode ser realizada com recurso a técnicas acessíveis e tecnologicamente avançadas, como a espectroscopia e a deteção remota.
A adoção desta métrica em políticas públicas e práticas agrícolas permitiria, segundo os investigadores, comparar resultados entre regiões e sistemas de produção e tomar decisões com base em evidência científica. “Esperar pela métrica perfeita para avaliar a saúde do solo pode fazer adiar decisões que são prementes. A matéria orgânica oferece um ponto de partida sólido e cientificamente fundamentado”, defendem.
O estudo integra uma série de investigações promovidas pelo Codex Planetarius, uma iniciativa internacional que procura definir critérios mínimos de desempenho ambiental para os alimentos comercializados globalmente, reforçando a ligação entre ciência do solo, sustentabilidade e segurança alimentar.
Fonte: Universidade Évora
O artigo foi publicado originalmente em Rede Rural Nacional.