A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) alerta que os ataques armados nas províncias do norte de Moçambique, principalmente em Cabo Delgado, estão a dificultar a atividade agrícola, quando 461 mil pessoas continuam deslocadas.
“Estima-se que 461.000 pessoas permaneçam deslocadas internamente devido à violência em curso, impedindo muitas famílias de se dedicarem à agricultura”, lê-se num relatório da FAO, a que a Lusa teve hoje acesso.
A província de Cabo Delgado, no norte do país, rica em gás, enfrenta desde 2017 uma rebelião armada, que provocou milhares de mortos e uma crise humanitária, com mais de um milhão de pessoas deslocadas desde então. Em maio, registaram-se igualmente ataques na vizinha província de Niassa e agora em Nampula, numa zona que tem acolhido milhares de deslocados dos distritos atacados, nos últimos meses, no sul de Cabo Delgado.
De acordo com o documento, a insegurança e os ataques de grupos armados não estatais nas províncias do norte, particularmente em Cabo Delgado, “continuam a dificultar a atividade agrícola”, sendo esta província, juntamente com Nampula, as mais afetadas pela insegurança alimentar aguda.
“Nestas províncias, as famílias deslocadas pelo conflito enfrentam desafios significativos para se envolverem em atividades geradoras de rendimento, incluindo a agricultura. Muitas dependem da assistência alimentar humanitária, que também foi prejudicada pela insegurança”, refere-se no relatório.
Sobre os “riscos negativos” para a produção agrícola em 2026, a FAO alertou ainda para o aumento da frequência da atividade ciclónica, durante as fases do fenómeno ‘La Niña’, “aumentando a probabilidade de inundações localizadas e consequentes danos nas culturas em pé”.
“Além disso, apesar da elevada probabilidade de chuvas sazonais abundantes, as condições mais secas do que o normal em algumas províncias do sul e do centro no final de setembro, pouco antes do período de plantação, e as previsões que indicam chuvas limitadas em outubro, podem dificultar ou atrasar as atividades de plantação”, acrescentou.
No final de julho, ataques destes grupos já tinham provocado mais de 57 mil deslocados no distrito de Chiúre, sul da província de Cabo Delgado, segundo dados oficiais anteriores.
Entretanto, a província regista um recrudescimento de ataques de grupos rebeldes, tendo sido alvos os distritos de Chiúre, Muidumbe, Quissanga, Ancuabe e Meluco. Mais recentemente também Mocímboa da Praia – onde aconteceu o primeiro grande ataque terrorista, em 05 de outubro de 2017 -, com registo de vários mortos, levando neste caso a organização Médicos Sem Fronteiras a suspender as atividades locais, por questões de segurança.
De acordo com dados das Nações Unidas, entre 19 e 26 de setembro de 2025, a escalada de ataques e a insegurança provocada por grupos armados em Cabo Delgado provocou igualmente cerca de 22 mil deslocados nos distritos de Balama, Mocímboa da Praia e Nangade.
O Presidente moçambicano, Daniel Chapo, disse em 25 de setembro que a segurança em Cabo Delgado melhorou, mas que a ameaça terrorista permanece, pedindo às Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) “estratégias para incinerar” esses grupos insurgentes.
Só em 2024, pelo menos 349 pessoas morreram em ataques, no norte de Moçambique, a maioria reivindicados pelo grupo extremista Estado Islâmico, um aumento de 36% face ao ano anterior, segundo dados divulgados.
De acordo com dados do Governo, dois milhões de moçambicanos estão em situação de insegurança alimentar, dos quais 148 mil necessitam de “assistência humanitária urgente”.