O ICNF divulgou hoje que na região do Planalto Mirandês, que desde 2024 até ao momento foram registados 32 ataques de lobos neste território fronteiriço distrito de Bragança, numa altura em que os pastores andam em sobressalto.
“No planalto mirandês, em 2025 e até à presente data, foram comunicados 10 casos de prejuízos provocados pelo lobo-ibérico. Durante o ano de 2024, foram comunicados na mesma área geográfica 22 casos”, indicou o Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), após questionado pela agência Lusa, sem que fosse avançado um número de animais mortos neste pperíodo de tempo.
Só no concelho fronteiriço de Miranda do Douro, no distrito de Bragança, nas últimas semanas foram registados três ataques de lobos nas localidades de Malhadas, Fonte Ladrão e Genísio, que resultaram na morte de algumas dezenas de animais e ferimentos graves em outros tantos.
A falta de alimentos provocada pelos incêndio, e o facto de o lobo ser um animal “territorial”, foram algumas das razões avançadas para os ataques.
O último ataque de lobos, conhecido na região do Planalto Mirandês, aconteceu, na aldeia de Genísio, no concelho de Miranda do Douro, na madrugada de 12 para 13 setembro, e, segundo o relato da produtora Patrícia Antão, resultou na morte de 10 ovelhas e ferimentos graves noutros 12 animais.
“Nós tínhamos o gado numa exploração a cerca de 200 metros da nossa casa, junto à estrada. Os lobos atacaram, deixando 10 ovelhas mortas – algumas estavam grávidas – e 12 feridas. As ovelhas feridas, dada a gravidade, vão acabar por morrer. O veterinário está a fazer tratamentos, mas os ferimentos são profundos”, explicou à Lusa na altura, a produtora.
As proximidades dos ataques dos lobos às aldeias também estão a sobressaltar os produtores de ovinos e caprinos.
Segundo o ICNF, O lobo-ibérico possui em Portugal o estatuto de em “perigo”, que lhe confere o Estatuto de Espécie Protegida.
“A nível da União Europeia (UE), é considerado uma espécie prioritária de interesse comunitário pela Diretiva Habitats”, vincou este organismo público.
Sendo reconhecida a importância do lobo-ibérico no equilíbrio natural dos ecossistemas, na valorização e diferenciação do território, para além da aposta num melhor conhecimento da espécie junto da população, Portugal tem estado comprometido em conciliar a sua conservação com a presença e as atividades humanas.
Existem diversas medidas de proteção da espécie, entre as quais se destacam as indemnizações por danos causados pelo lobo-ibérico, e ainda vários projetos que apoiam os criadores de gado e incentivam medidas de proteção, como o uso de cães de gado de raças autóctones (projeto desenvolvido pelo ICNF, desde os anos de 1990, e pelo Grupo Lobo e Rewilding Portugal mais recentemente).
Em julho, foi apresentado o Programa Alcateia 2025-2035, de proteção do lobo-ibérico, que tem para este ano um orçamento de 3,3 milhões de euros e contempla a revisão das indemnizações por ataques de lobos a gado, aproximando-as dos valores de mercado.
Para exemplificar, o dirigente do ICNF, Nuno Banza, explicava naquela altura que eram praticadas indemnizações de por exemplo 60 ou 70 euros quando o valor de mercado do animal seria de 170 ou 180. E acrescentou: “Não acompanhamos completamente o valor do mercado, mas aproximamo-nos”.
Com o reforço da proteção do lobo, há um aumento do valor da indemnização ao produtor que cumpre as medidas e que perder animais por ataque de lobos, sendo que o valor “não é um convite ao abandono dos animais”, algo que também é necessário acautelar, e há um processo de verificação e de pagamento rápido.