O Instituto Superior de Agronomia (ISA) lançou um curso de formação avançada que junta Inteligência Artificial (IA), robôs, e ciência de dados ao conhecimento técnico de quem está no terreno. Falámos com o Professor António Reis Pereira, coordenador da formação, e com Bruno Pignatelli, da Tratores Ibéricos, que nos explicam por que motivo a agricultura portuguesa tem tudo para liderar, se souber preparar-se.
Começa com dados. Continua com máquinas. E precisa de pessoas. É assim que António Reis resume o espírito da nova formação avançada em Automação e Inteligência Artificial na Agricultura e Florestas. O curso de curta duração ministrado no ISA (Instituto Superior de Agronomia) tem uma forte componente prática e quer dar aos profissionais do setor as ferramentas necessárias para operar (e entender) a nova geração de máquinas inteligentes, preparando-os para o futuro.
“Hoje, um trator já não é só força e resistência. É também código, sensores, algoritmos e conetividade. A Kubota está na linha da frente da agricultura de precisão e desta mudança de paradigma tecnológico, pelo que faz todo o sentido sermos parceiros desta iniciativa”, afirma Bruno Pignatelli, General Manager da Tratores Ibéricos, que representa a marca Kubota. Já o professor António Reis Pereira, adianta que “a nossa ideia foi criar uma formação que aproxima estas tecnologias de quem trabalha com a terra, todos os dias.”
Escassez de mão de obra
A automação e a IA estão já a mudar a forma como se semeia, cultiva e colhe. Estas tecnologias têm impacto direto na produtividade, na sustentabilidade e, sobretudo, na capacidade de responder a dois dos grandes desafios do setor: a escassez de mão-de-obra e a crescente incerteza climática.
“Não há gente para fazer certos trabalhos. E onde há, os custos e as condições sociais tornam tudo mais difícil”, sublinha António Reis Pereira. “Se houver máquinas capazes de fazer tarefas repetitivas, com precisão e segurança, isso não é uma ameaça. É uma solução.”
Quando a inteligência artificial entra em campo
O curso está estruturado em 10 aulas, que combinam sessões teóricas com três demonstrações práticas. O objetivo é descomplicar a inteligência artificial e mostrar como já está a ser usada em situações reais. Entre os casos práticos, destaca-se a demonstração de uma máquina de colheita autónoma de framboesas desenvolvida pela Fieldwork Robotics, um robô para controlo de infestantes em vinhas e pomares desenvolvido no ISA, e o Robotti Made for Kubota, um trator autónomo pensado para culturas em linha e hortícolas, com compatibilidade total com alfaias convencionais.
A demonstração do Robotti será conduzida por Diego Martin, com o apoio direto da Tratores Ibéricos, representante da Kubota em Portugal e parceira ativa desta iniciativa.
“Este tipo de soluções não são protótipos, já estão no mercado. E funcionam. A compatibilidade com alfaias normais, por exemplo, é decisiva para acelerar a adoção. E é isso que vamos mostrar aos participantes”, afirma o coordenador do curso.
Formação com base técnica e visão de futuro
Além dos conteúdos técnicos, o curso integra temas estruturantes como a regulação, proteção de dados, ética na utilização de tecnologias e políticas públicas. “A minha área de investigação é precisamente essa: o ecossistema que tem de existir para a tecnologia funcionar. A máquina pode ser ótima, mas se não houver um enquadramento legal, uma rede de dados e formação, não vai a lado nenhum”, explica António Reis Pereira.
Com o envolvimento de instituições como o Instituto Superior Técnico, a Information Management School (MS) da Universidade Nova de Lisboa (UNL), a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e o INESC TEC, e com parceiros de peso como a Kubota (através da Tratores Ibéricos), a formação aposta numa abordagem multidisciplinar, mas sempre orientada para a aplicação prática.
Portugal tem tudo para liderar esta mudança
Apesar das dificuldades conhecidas, como os custos iniciais, a resistência à mudança e as lacunas na rede digital, António Reis Pereira acredita que o setor agrícola português está preparado para esta transição, desde que haja formação adequada. “Os nossos agricultores são tecnicamente competentes, sabem adaptar-se, e têm noção do que está em jogo. Agora, falta-lhes muitas vezes acesso à informação certa, sem chavões, sem complexidade desnecessária. É isso que este curso oferece.”
Mais do que transferir conhecimento, o objetivo é capacitar quem quer estar na linha da frente da inovação, seja técnico, gestor, empresário ou estudante.
A próxima etapa já começou
“Isto já começou. E quem não entrar, vai ficar para trás.” A frase do Professor António Reis resume o espírito desta formação: antecipar, entender e aplicar o que já está a acontecer no terreno. “A inteligência artificial já está no nosso dia-a-dia, no telemóvel, nos mapas, nas compras. Já nem damos por ela. Está na hora de estar também nos nossos campos e ao serviço de quem os trabalha.”
O artigo foi publicado originalmente em abolsamia.
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