Uma águia-de-Bonelli foi devolvida à natureza esta sexta-feira, 12 de setembro, depois de resgatada pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e tratada no LxCRAS – Centro de Recuperação de Animais Silvestres da Câmara Municipal de Lisboa. A libertação ocorreu na zona de Pancas, Alcochete, junto à Reserva Natural do Estuário do Tejo.
O juvenil foi resgatado no final de maio por uma equipa de vigilantes da natureza do ICNF depois de ter caído do ninho, na sequência de uma ação de monitorização dos ninhos localizados na Reserva Natural do Estuário do Tejo. Confirmou-se o desaparecimento das aves parentais, tendo o exemplar sido encaminhado para o LxCRAS, onde nos últimos três meses recuperou com sucesso a sua condição física.
Na fase inicial da recuperação, o foco foi a sua recuperação clínica, tendo-se também realizado exames complementares de diagnóstico que confirmaram a debilidade e revelaram toxicose. A resposta foi muito positiva e este jovem macho pôde passar à fase seguinte, com grandes desafios pela frente para uma espécie de hábitos discretos e muito sensível ao stress em cativeiro – aprender a caçar e manter o comportamento natural da espécie.
Foi então alojado no túnel de voo, com contacto reduzido, onde pôde recuperar a condição muscular, exercitar o voo e aprender a reconhecer e obter alimento através da caça. Após três meses de recuperação, a águia-de-Bonelli apresenta agora um voo forte e dinâmico, condições necessárias à sua libertação e devolução ao seu habitat natural com maior probabilidade de sucesso.
O seguimento deste juvenil será feito através de um emissor GSM, que permitirá obter informação fundamental para a conservação da espécie. Este tipo de dispositivo é fixado no dorso da águia de forma a não condicionar os seus movimentos, esperando-se que permaneça durante cerca de quatro a cinco anos, altura em que o desgaste natural fará com que se solte.
Durante as primeiras semanas, um técnico do ICNF fará o acompanhamento necessário no terreno para confirmar a sua boa adaptação.
Esta monitorização integra-se no Programa de Seguimento de águia-de-Bonelli, coordenado pela SPEA (Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves), no âmbito do projeto LXAquila (https://spea.pt/life- lxaquila/), exclusivamente dirigido à conservação da população peri-urbana de águia de Bonelli na Área Metropolitana de Lisboa.
A águia-de-Bonelli é um predador de topo, residente em Portugal, com populações relevantes no interior e sul do país, onde depende de uma grande diversidade de biótopos mediterrânicos com áreas tranquilas adequadas à nidificação e áreas abertas com disponibilidade de alimento. Na região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT), a população nidifica muito próximo das povoações, sendo atualmente monitorizados 16 casais no âmbito do projeto LXAquila. Está classificada com o estatuto Vulnerável (Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, 2008).
Apesar dos esforços desenvolvidos para a proteção da espécie, a monitorização efetuada desde 2007 (dados do grupo de Trabalho da Águia-de-Bonelli/SPEA) mostra uma elevada taxa de substituição de membros dos casais, havendo casais com pelo menos três substituições de pelo menos um membro do casal nesse período. Entre 2012 e 2024, detetaram-se pelo menos 30 substituições de aves reprodutoras, sendo que para 21 delas há uma forte probabilidade de mortalidade não-natural. A mortalidade dos juvenis voadores também é muito elevada, sendo que dos nove juvenis marcados com transmissores GSM pelo projeto LIFE LXAquila, dois morreram por colisão e/ou eletrocussão com linhas elétricas de média e alta tensão, dois por provável perseguição direta e um sobreviveu após uma possível colisão. Dadas estas causas, bem como o previsível aumento da colisão com aerogeradores e a progressiva redução de presas e de locais adequados à nidificação, torna-se necessário manter os esforços de proteção da espécie.
Fonte: ICNF