A ZERO lamenta que mais uma vez numa situação de ocorrência de grandes incêndios rurais, para além da prioridade ao combate e à salvaguarda de pessoas, bens e também do património natural, não se dê prioridade à proteção da saúde das populações, principalmente das mais vulneráveis (crianças, idosos e pessoas com problemas respiratórios e/ou cardiovasculares) face à enorme poluição do ar associada.
Partículas dos incêndios são muito tóxicas
As emissões de poluentes atmosféricos associados aos incêndios rurais correspondem a uma mistura de compostos perigosos para a saúde que podem ir desde as partículas inaláveis (PM10) às partículas finas (PM2,5), óxidos de azoto, hidrocarbonetos aromáticos (estes dois últimos, precursores da formação de ozono), entre outros. Além de contaminarem o ar com poluentes tóxicos, os incêndios rurais também impactam simultaneamente o clima ao serem libertadas grandes quantidades de dióxido de carbono e de outros gases de efeito de estufa para a atmosfera.
Para Francisco Ferreira, Presidente da Associação ZERO mas também investigador em qualidade do ar e coordenador do CENSE – Centro de Investigação em Ambiente e Sustentabilidade na NOVA FCT, “as partículas finas emitidas pelos incêndios rurais são o poluente atmosférico de maior preocupação para a saúde pública, porque as mesmas podem viajar profundamente para os pulmões e até mesmo entrar na corrente sanguínea; as partículas finas estão associadas a mortes prematuras na população em geral e podem causar e agravar doenças respiratórias, cardiovasculares, problemas para o sistema nervoso, pele, intestino, rins, olhos, nariz e fígado.”
Os bombeiros e quem trabalha na resposta a emergências desta natureza também pode ser muito impactado por ferimentos, queimaduras e inalação de poluentes, particularmente em altas concentrações, incluindo o risco de intoxicação por monóxido de carbono.
Avisos são indispensáveis
No entender da ZERO, deveriam estar a ser feitos avisos à população no âmbito da ação da Proteção Civil em conjunto com o Ministério do Ambiente e Energia através da Agência Portuguesa do Ambiente e do Ministério da Saúde através da Direção-Geral de Saúde. Não basta um alerta genérico para a população presente nas zonas mais afetadas. É necessário pensar em dois tipos de exposição – as populações junto às zonas em fogo e as populações mais distantes, por vezes a dezenas de quilómetros que sofrem sequências do transporte a maiores distâncias dos poluentes de acordo com as circunstâncias meteorológicas. As recomendações têm de ser objetivas e, para além de se recomendar a consulta do índice de qualidade do ar do local onde as pessoas estão ou vivem através da internet, devem ser feitos avisos obrigatoriamente transmitidos na comunicação social e SMS, por exemplo sugerindo o uso de máscara apropriada e certificada ou a redução de esforços que impliquem maiores taxas respiratórias, de acordo com os níveis detetados ou previstos para as regiões selecionadas, com base em dados de monitorização ou de previsão. Convém sempre lembrar que as máscaras não previnem a exposição a gases poluentes, mas reduzem fortemente o risco associado à exposição a partículas, que é o poluente mais relevante como já apresentado anteriormente.
As pessoas com doenças pulmonares (como asma) ou cardíacas, idosos, crianças, grávidas e pessoas que trabalham ao ar livre correm maior risco de sofrer efeitos na saúde, principalmente causados pelas partículas provenientes de incêndios rurais. É importante uma conversa com os profissionais de saúde para saber como lidar com eventos de poluição agravada e manter um suprimento de medicamentos necessários em casa para ocasiões críticas. Em caso de elevadas concentrações de poluentes, é fundamental parar ou reduzir o nível de atividade e, caso a respiração fique desconfortável, contactar a autoridade de saúde local ou a linha SNS24 para assinalar sintomas graves ou se for preciso aconselhamento.
Fonte: ZERO