O presidente da Casa do Douro mostrou-se hoje preocupado com as tarifas entre os Estados Unidos e a União Europeia (UE) e advertiu que a inconstância das políticas da administração norte-americana já teve impacto nas vendas de vinhos.
O acordo comercial entre a União Europeia (UE) e os Estados Unidos da América (EUA), alcançado no domingo, fixa em 15% as tarifas aduaneiras norte-americanas sobre os produtos europeus.
“Estamos preocupados, estamos expectantes, porque esperamos que o vinho não esteja incluído nisto, há esta possibilidade como um produto agroalimentar e preocupa-nos, porque o mercado americano é um mercado fundamental”, afirmou Rui Paredes, que falava aos jornalistas após uma conferência de imprensa que decorreu no Peso da Régua, distrito de Vila Real.
O dirigente disse estar preocupado porque as tarifas implicam com as vendas de vinhos da Região Demarcada do Douro.
“Implica não compra depois aos viticultores, a diminuição do que é o quantitativo do benefício [quantidade de mosto destinado à produção de vinho do Porto]. Ou seja, isto tudo nos preocupa e preocupa quando as próprias empresas ou o mercado americano é muito apetecível porque é um mercado muito valorizado. É de longe o mercado mais valorizado que nós temos ao nível da exportação”, realçou.
Rui Paredes referiu que o Douro tem tido capacidade “de ir ajustando as velas” à procura dos melhores mercados para os seus vinhos, exemplificando que isso aconteceu após a guerra entre a Rússia e a Ucrânia.
“Vendia-se muito vinho do Porto no mercado russo. Tivemos que virar as velas para o outro lado. Chegamos aos Estados Unidos, agora temos o problema das taxas e a inconstância que é”, lamentou.
Para Rui Paredes, o maior problema é ainda “a inconstância das políticas” da administração liderada por Donald Trump, lembrando que logo em abril, só com a ameaça de um aumento de taxas, houve encomendas de vinhos suspensas ou canceladas para os EUA.
Alguns negócios foram, depois, retomados, no entanto, segundo explicou Rui Paredes, decorre um longo período desde que o produto sai do operador, ou sai da adega, até chegar aos Estados Unidos.
“E durante este período podem-se lembrar de dizer, não, não, agora não são 15%, são 20, ou são 30, ou são 50. E isto é a instabilidade que se cria também no setor”, advertiu.
Em 2024, foram exportados cerca de 36 milhões de euros de vinho do Porto para os EUA, o que se traduz num aumento de 6,5% comparativamente com o ano anterior.
A nível dos vinhos Denominação de Origem Controlada (DOC) Douro, o mercado norte-americano representou um volume de negócios que ronda os 5,6 milhões de euros.
O acordo prevê o compromisso da UE sobre a compra de energia norte-americana no valor de 750 mil milhões de dólares (cerca de 642 mil milhões de euros) – visando nomeadamente substituir o gás russo -, o investimento de 600 mil milhões adicionais (514 mil milhões de euros) e um aumento das aquisições de material militar.
Os EUA e os países da UE trocam diariamente cerca de 4,4 mil milhões de euros em bens e serviços.