A criação de soluções habitacionais e a integração social dos trabalhadores agrícolas migrantes, assim como a sustentabilidade ambiental, o desenvolvimento económico e a modernização do regadio foram alguns dos temas em destaque no primeiro colóquio da Associação de Horticultores, Fruticultores e Floricultores dos Concelhos de Odemira e Aljezur (AHSA), sob o tema “Regadio e Alojamento: Fatores Críticos de Sucesso”.
De acordo com o comunicado de imprensa, a iniciativa reuniu representantes do setor agrícola, decisores públicos e especialistas para debater os principais desafios e oportunidades do desenvolvimento sustentável da agricultura no sudoeste alentejano.
A comunicação também dá conta de que, ao longo das várias intervenções ao longo do evento, “ficou clara a urgência de estratégias locais e nacionais articuladas”.
Na abertura, Luís Mesquita Dias, presidente da AHSA, destacou o potencial único do território para a agricultura, devido ao clima favorável e à infraestrutura hídrica da barragem de Santa Clara. Além disso, relembrou os avanços da última década, fruto da combinação entre a disponibilidade de água e o capital humano, incluindo técnicos e trabalhadores migrantes.
Entre os dados apresentados, destacou a faturação anual da atividade agrícola no Perímetro, que ronda os 500 milhões de euros, dos quais um terço corresponde à receita fiscal da região. Luís Mesquita Dias, no entanto, alertou para desafios atuais enfrentados pelo setor, nomeadamente as restrições impostas por entidades reguladoras no Parque Natural, que limitam práticas essenciais, como a construção de charcas, assim como as dificuldades ou atrasos no licenciamento de habitação nas quintas.
No entanto, destacou também aspetos positivos, como o projeto “Água que Une”, que prevê fundos para a modernização do regadio no Perímetro, e a importante ligação Alqueva – Santa Clara. Finalizou elogiando as medidas do Governo para regular e equilibrar os processos de imigração.
Mário Sánchez, gerente da residência espanhola Tariquejo, apresentou o exemplo de um modelo ético de alojamento coletivo para trabalhadores sazonais, em funcionamento desde 2010. Com o apoio municipal no licenciamento, a estrutura depende do investimento direto dos empresários e defendeu que o recrutamento organizado nos países de origem é essencial para a integração sustentável dos trabalhadores.
Já Hélder Guerreiro, presidente da Câmara Municipal de Odemira, reconheceu o valor económico da agricultura para o país, mas destacou que os seus benefícios não revertem para a região. Apontou desafios persistentes, como a falta de financiamento público para habitação, os obstáculos urbanísticos impostos por algumas entidades públicas e a desregulação do processo de imigração. Fez também um apelo pelo reforço dos serviços públicos, para garantir uma resposta adequada ao crescimento populacional.
O colóquio da AHSA foi encerrado por Álvaro Mendonça e Moura, presidente da CAP – Confederação dos Agricultores de Portugal, que apontou como principais desafios futuros a reforma da PAC e a execução do plano “Água que Une”. Destacou ainda a importância de um modelo de desenvolvimento que integre imigração, inovação e colaboração público-privada. Concluiu enfatizando que o desenvolvimento do país é crucial e que apenas uma economia forte pode reter os jovens no mercado de trabalho nacional.
O artigo foi publicado originalmente em Vida Rural.