Investigadores do Centro de Investigação em Genómica Agrícola (CRAG), em Espanha, publicaram, nos últimos seis meses, três estudos científicos que identificam os mecanismos moleculares responsáveis pela resistência à seca no sorgo e ferramentas que podem ser usadas em aplicações biotecnológicas.
No primeiro estudo, publicado na Plant Biotechnology Journal, os investigadores identificaram mutações na proteína SbBRI1, que permitem ao sorgo resistir melhor à seca. A descoberta impulsiona ao desenvolvimento de variedades geneticamente melhoradas que conservam água, mantêm a fotossíntese ativa e sobrevivem a períodos prolongados de escassez hídrica.
Num segundo estudo, publicado no The Plant Journal, foi desenvolvido um método eficiente para transformar geneticamente o sorgo. Este procedimento, baseado no uso da bactéria Agrobacterium tumefaciens, resolve um dos principais entraves à investigação: a dificuldade em modificar geneticamente variedades de sorgo resistentes à transformação. O novo sistema duplica a eficiência da transformação genética, facilitando o uso de técnicas como a edição genética para acelerar o melhoramento da cultura.
Já o terceiro estudo, publicado no New Phytologist, caracteriza o papel da proteína SbBRI1 no desenvolvimento das raízes do sorgo, uma vez que as raízes são essenciais para a absorção de água e nutrientes, sendo particularmente importantes em ambientes com solos menos viáveis ao desenvolvimento ou secos. Os investigadores adaptaram métodos avançados de coloração e microscopia, antes usados em modelos laboratoriais como Arabidopsis, para aplicar diretamente ao sorgo.
De acordo com os cientistas, estes avanços podem combater os efeitos das alterações climáticas, reduzindo a dependência de importações e melhorando a segurança alimentar para consumo humano.
O sorgo é cada vez mais considerado uma cultura crucial para a adaptação às alterações climáticas devido à sua tolerância a altas temperaturas e à seca, especialmente quando comparado ao milho, que é o cereal mais cultivado na Europa e é altamente suscetível ao stress hídrico.
Os cientistas acreditam que a expansão desta cultura em Espanha pode criar oportunidades económicas para os agricultores, reduzir a dependência de importações e impulsionar a produção agrícola local. Na Catalunha, mais de 100.000 toneladas de sorgo foram produzidas em 2023, com mais de 90% das quais foram utilizadas para ração animal.
O aumento de aproximadamente 6% na procura por sorgo para consumo humano até 2024 destaca o seu potencial para melhorar a nutrição, especialmente porque as investigações científicas estão a levar ao desenvolvimento de novas variedades de sorgo, sublinham os investigadores responsáveis pelo estudo.
“Estas três descobertas científicas revolucionárias não apenas abrem caminho para um cultivo de sorgo mais sustentável e produtivo, mas também representam um passo decisivo para enfrentar os desafios globais de segurança alimentar e nutrição. Além disso, estes avanços são também relevantes para o cultivo de outras culturas essenciais, como o milho, trigo e arroz. Estas investigações abrem assim as portas para uma agricultura climaticamente inteligente, com variedades mais resilientes e sustentáveis”, enfatizam os cientistas.
O artigo foi publicado originalmente em Vida Rural.