O Festival SURO sobe ao palco da Fábrica Catalã nos dias 5 e 6 de julho na sede desta Associação Cultural, na vila que já é considerada a mais catalã de Portugal. A programação é diversificada e tem como principal enfoque a observação in loco da tiragem de cortiça acompanhada de explicação de todo o processo.
O dia 5 é dedicado às Artes e tem início às 18h00 com a Abertura da Exposição da Coleção da Fábrica Catalã que reúne a escultura, a pintura, o desenho e a fotografia no amplo espaço onde outrora se empilhavam as pranchas de cortiça. Segue-se a projeção do filme documentário “Dans la chambre” do realizador Yves Cantraine, uma viagem através da memória (em versão original em francês legendada em inglês). Ao jantar será servido um “couscous” ao sabor de Mamora, nome do maior sobreiral do mundo situado em Marrocos, sendo este um dos momentos mais aguardado do festival que termina com o concerto MOURA “Azul Assim Apenas”. MOURA viaja pelo universo da música folk, através de uma linguagem experimental, misturando instrumentos acústicos com música eletrónica. Pedro Moura (guitarra portuguesa e eletrónicas) e Bruna de Moura (violoncelo e eletrónicas), inspiram-se nas paisagens, na cinematografia do som, nas narrativas dos lugares.
No dia 6 de julho o destaque vai para o Património e tem início com a observação in loco da tiragem, feita por tiradores de Azaruja, de Coruche e da Catalunha, acompanhada de explicação de todo o processo. Este ecumenismo em torno do sobreiro, que acontece logo pela manhã, visa valorizar o património material e imaterial que se “extrai” da cortiça, assim como, estimular a interação entre portugueses e catalães, dando o protagonismo aos tiradores que desempenham um papel central na preservação do montado, graças ao seu nível de especialização e minúcia, ao não comprometeram a vitalidade da árvore e permitindo a sua regeneração cíclica e integral no ato da extração.
No espaço conferências, vamos ter a apresentação do projeto “Fábrica 25-27” que integra três trabalhos que serão desenvolvidos ao longos destes dois anos. “A arquitetura da Fábrica Catalã. As residências de trabalho em projeto”, desenhado pelo arquiteto Rui Mendes, co curador do Concurso Universidades Trienal de Arquitetura de Lisboa 2016 e docente universitário, o documentário “Cortiça” do realizador Pierre Primetens e a “Investigação histórica, livro e exposição permanente” da autoria de José Calado, Maria do Carmo Duque, Jorge Inverno e Manuel Canudo.
A Catalunha marca presença através da Associação Casal Català de Lisboa seguindo-se um brunch servido em pranchas de cortiça e porró, o tradicional barril, mas em vidro, à moda catalã, que permite que todos bebam “à galhé”, uma imagem bem característica da cultura da tiragem.
Dois artistas locais vão estar presentes realizando trabalhos em cortiça à mão, Hélder Cavaca cria obras em cortiça natural por meios digitais e a Casa do Montado propõe dinamizar atividades de sensibilização do ecossistema do montado dirigidas a um público mais jovem.
As conferências prosseguem da parte da tarde com o investigador, Ignacio Garcia-Pereda, a apresentar o trabalho “Joaquim Vieira Natividade (1899-1968): ciência e política do sobreiro e da Cortiça”, que tem como objetivo divulgar a história da subericultura em Portugal com início em 1930 e que contribuiu para a produção de ciência e desenvolvimento silvícola. Da Universidade Nova de Lisboa, o investigador Daniel Boa Nova, apresenta a comunicação “Fricções da cortiça em Portugal: caminhos de investigação e relatos de situação” seguida da apresentação “Economia circular e sustentabilidade ambiental: o contributo da exploração industrial do sobreiro e da cortiça perante os desafios do século XXI”, por Francisco Parejo Moruno da Universidad de Extremadura.
Vindo da Catalunha, o diretor do Museu del Suro de Palafrugell, Pep Espadalé, propõe a reflexão sobre o «Pasado, presente y futuro del corcho y su industria en España y Portugal» e Sílvia Alemany, diretora do Museu de Història de Sant Feliu de Guíxols, partilha a apresentação “A exposição permanente da sociedade da cortiça em Sant Feliu de Guíxols”.
Terminadas as conferências, a tarde prossegue com uma visita guiada ao exterior da Casa de Andrès Camps, um ilustre catalão e industrial corticeiro, e ao obelisco da família no cemitério de Azaruja, conduzida pelo investigador Ignacio Garcia-Pereda.
Maria do Carmo Duque, fundadora da Fábrica Catalã e programadora do Festival SURO, destaca a ação desta associação cultural na visibilidade que tem dado às problemáticas atuais do sector corticeiro estimulando o público ao debate e reflexão em torno do contexto ecológico que vivemos, do ecossistema “Montado”, do sobreiro e da cortiça, e como estes últimos contribuem para a sustentabilidade, a economia circular e para a coesão do território.
A 2a edição do Festival SURO termina com uma prova de vinhos “Alentejo e Catalunha de Honra” que simboliza um brinde à empatia que existe entre as gentes destes dois territórios fruto da migração ocorrida no século XIX.
A entrada é livre, sujeita a inscrição prévia, apenas as refeições funcionam com reserva.