As vítimas da rede criminosa que se dedicava ao tráfico de pessoas no Baixo Alentejo e que foi hoje desmantelada pela Polícia Judiciária (PJ) estão a ser ouvidas pelas autoridades em instalações improvisadas, em Beja.
Uma tenda azul com o símbolo da PJ, três contentores e uma unidade móvel descaracterizada ocupam um dos parques de estacionamento do Parque da Cidade, à entrada de Beja, observou a agência Lusa no local.
Foi para este local, com estas estruturas montadas para o efeito, que foram transportadas em carrinhas as vítimas da rede criminosa. Aí, aquelas que o tenham decidido, prestaram depoimento sobre a organização às autoridades.
Alguns dos migrantes já abandonaram o local, igualmente em carrinhas, mas outros ainda aguardam no interior de uma das viaturas ou sentados em cadeiras no exterior.
As autoridades criaram uma barreira, com fitas e baias de plástico, que impedem os jornalistas e transeuntes de se aproximarem.
No exterior, também é possível observar várias pessoas com coletes que os identifica como sendo da PJ, Segurança Social, Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) e Alto Comissariado para as Migrações (ACM) e também outras sem qualquer identificação.
Além das autoridades, estão também no local elementos de associações e da Câmara de Beja, com uma carrinha para o fornecimento de águas e comida.
Um dos migrantes teve que ser assistido pelos Bombeiros de Beja no interior de uma ambulância da corporação.
A PJ deteve hoje 35 pessoas pertencentes a uma rede criminosa que contratava trabalhadores estrangeiros para a agricultura no Baixo Alentejo, revelou uma fonte policial à agência Lusa.
Segundo a mesma fonte, esta rede era formada por estrangeiros, nomeadamente famílias romenas, e alguns portugueses que lhes davam apoio.
“As várias dezenas de vítimas de nacionalidades romena, moldova, marroquina, paquistanesa e senegalesa eram contratadas para explorações agrícolas em Beja, Cuba e Ferreira do Alentejo entre outros locais”, avançou a fonte.
Mais tarde, em comunicado, a PJ indicou que os 35 detidos estão “fortemente indiciados” pela prática de crimes de associação criminosa, tráfico de pessoas, branqueamento de capitais e falsificação de documentos, entre outros crimes.
“Os suspeitos, com idades compreendidas entre os 22 e os 58 anos de idade, de nacionalidade estrangeira e portuguesa, encontram-se fortemente indiciados pela prática de crimes de associação criminosa, de tráfico de pessoas, de branqueamento de capitais, de falsificação de documentos, entre outros”, pode ler-se em comunicado divulgado pela PJ.
Os detidos, numa operação no distrito de Beja realizada hoje, “integram uma estrutura criminosa dedicada à exploração do trabalho de cidadãos imigrantes”, adiantou.
Os imigrantes eram, “na sua maioria, aliciados nos seus países de origem, tais como, Roménia, Moldávia, Índia, Senegal, Paquistão, Marrocos, Argélia, entre outros, para virem trabalhar em explorações agrícolas naquela região do nosso país”, acrescentou a PJ.
No comunicado, a Judiciária explicou que a “vasta operação policial”, através da Unidade Nacional de Contra Terrorismo, foi desenvolvida no âmbito de um inquérito titulado pelo Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa.
A operação envolveu “cerca de 400 operacionais [da PJ], em várias cidades e freguesias da região do Baixo Alentejo”, que procederam “ao cumprimento de 65 mandados de busca domiciliária e não domiciliária e à detenção, fora de flagrante delito, de 35 homens e mulheres”.
A notícia destas detenções foi avançada inicialmente pela CNN Portugal.