O presidente da ProDouro, Rui Soares, afirmou hoje que, perante a escassez de água nos solos, os viticultores da região Norte estão “preocupados” com os próximos meses de verão, tanto com a sobrevivência da vinha como com a produção.
“O sentimento é de preocupação por parte dos viticultores. Estamos numa fase adiantada do ciclo, mas o verão ainda agora começou, ainda temos muito tempo pela frente até à vindima”, afirmou à Lusa o presidente da ProDouro – Associação dos Viticultores Profissionais do Douro.
Apesar do atual estado das produções ser “satisfatório”, com as vinhas a desenvolverem “boa folhagem” e a “agradarem à vista”, os viticultores receiam o que “ainda está por vir”, nomeadamente os meses de julho e agosto, que têm sido “mais quentes do que o habitual noutros anos agrícolas”.
“Os nossos verões têm sido bastante quentes e a nossa reserva de água no solo é muito baixa”, observou o presidente da ProDouro, detalhando que são duas as preocupações dos produtores: a sobrevivência da vinha, sobretudo a mais jovem, e a qualidade da própria produção.
“Havendo tão pouca reserva de água tememos que o verão seja difícil em duas perspetivas: por um lado, para a sobrevivência das plantas e, por outro, para a produção, uma vez que a água é um mecanismo fundamental para que a planta não entre em ‘stress'”, disse, notando que se a água no solo for insuficiente e se as temperaturas forem elevadas a planta “acaba por não fazer bem o ciclo produtivo”.
“Isso compromete a produção”, sublinhou.
Dizendo que ao nível da precipitação o outono/inverno “nada trouxe”, Rui Soares afirmou que o efeito da seca pode ter consequências “não só neste ano agrícola, como nos anos vindouros”.
Os distritos de Viana do Castelo, Braga e Porto atingiram níveis de seca severa e Vila Real e Bragança de seca extrema, revelou na terça-feira à Lusa Vanda Pires, do Departamento de Clima e Alterações Climáticas do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), destacando que “as notícias não são animadoras” para a região.
À Lusa, o presidente da ProDouro salientou que o Governo “pode fazer mais” em matéria de mitigação dos efeitos da seca, e que tal passa, inicialmente, por “sensibilizar” e “incentivar” os viticultores a pouparem e economizarem água.
“Nas explorações agrícolas, por vezes, esse bem não é devidamente tratado, ou seja, existem algumas situações em que as pessoas negligenciam a poupança de água”, afirmou, notando que seria também importante “incentivar”, através de financiamento, os produtores a criarem mecanismos de armazenamento de água.
“Existem muitas ribeiras onde a água corre, mas corre em direção ao rio Douro e, por sua vez, em direção ao mar. Se só temos água habitualmente no período de outono/inverno, então não a podemos desperdiçar e mandar com ligeireza para o rio Douro”, disse, assegurando que o armazenamento de água poderia ser feito através de barragens agrícolas ou charcas (pequenas construções).
Também em declarações à Lusa, o diretor da Associação dos Agricultores e Pastores do Norte (APT), João Morais, afirmou na quarta-feira que os associados estão a viver uma “situação gritante” devido à falta de água na região, cujos distritos atingiram níveis de seca severa e extrema.