Trezentos hectares de amendoeiras já estão plantados, mas o objetivo do grupo Veracruz é aumentar até 5 mil hectares a área de produção no distrito de Castelo Branco, região onde grupo luso-brasileiro vai investir 50 milhões de euros. A primeira colheita de amêndoa está prevista para 2021, tendo o mercado externo como objetivo. O grupo prevê 2 milhões de faturação no primeiro ano de produção, 15 milhões em velocidade cruzeiro.
“A Veracruz está a investir 50 milhões de euros na produção de amêndoa em dois mil hectares de terreno brutos (1.500 hectares serão plantados) no distrito de Castelo Branco, nos concelhos do Fundão e de Idanha-a-Nova”, adianta David Carvalho. O grupo, refere o sócio fundador da Veracruz, “ambiciona chegar aos 5 mil hectares de produção, mas numa posterior fase do investimento, através da abertura do capital a investidores interessados”. Neste momento, já estão a trabalhar com um assessor financeiro para esta entrada de capital.
O investimento na primeira fase do projeto, recentemente reconhecido como Projeto de Potencial Interesse Nacional (PIN), está a decorrer tendo envolvido 26,3 milhões de euros. “A plantação arrancou em 2018 e, neste momento, cerca de 300 hectares estão plantados”, diz David Carvalho.
O grupo Veracruz tem atualmente cinco herdades espalhadas pelo concelho do Fundão e Idanha-a-Nova, com uma área bruta total de cerca de 1.300 hectares, mas o objetivo é chegar aos 5 mil hectares. A primeira colheita, saída dos 300 hectares plantados no ano passado, é esperada para 2021. “Quando a produção estiver em velocidade cruzeiro, antecipamos uma produção de 4 mil toneladas anuais de amêndoa, todas de variedades tradicionais mediterrânicas, o equivalente a 2 mil quilo de miolo por hectare”, precisa o responsável.
Cerca de 2 milhões de faturação é o objetivo esperado no primeiro ano de produção, valor que subirá para 15 milhões quando a produção estiver em pleno. “Um fator que pesa é o preço de venda da amêndoa ser definido no mercado com base na produção anual dos Estados Unidos, em concreto da Califórnia”, justifica David Carvalho.
Mais de metade da produção em Castelo Branco deverá ser canalizada para o mercado externo. A escolha de Portugal para investir não foi acidental. A começar pelas condições que oferece ao nível da produção deste fruto. “As condições edafoclimáticas da Beira Baixa, que são propícias à cultura da amêndoa, que requer um clima seco, disponibilidade de água e 300 horas anuais abaixo dos 7ºC de temperatura. Por outro, a disponibilidade de terra cultivável a preços competitivos”, enumera.
O sócio fundador do grupo Veracruz destaca também a aposta que está a ser feita na região no ecossistema startup. “No Fundão está a nascer um dos maiores centros rurais da IOT (Internet das Coisas) da Europa e uma incubadora de startups viradas para a agrotec; em Idanha-a-Nova, o MIT e as universidades nacionais juntaram-se para criarem o Green Valley, projeto que tem mais de uma dezena de startups inovadoras neste sector”, refere. Valências relevantes para o grupo Veracruz que se posiciona “como uma empresa direcionada para a agrotec e smart farming, fazendo uma agricultura de precisão e sustentável”.
O projeto, por exemplo, vai recorrer a drones e à captação de imagens satélite para verificar o desenvolvimento e saúde das plantas, introduzir sondas no solo para monitorização do uso de água e de fertilizantes, e disponibilizar as terras como campos de exploração e showroom para startups de agrotec.
70% da produção para exportação
Mas não só. A região está igualmente servida por rede rodoviária, ligando as principais cidades portuguesas e espanholas, com Espanha, um dos principais mercados importadores de amêndoa, mesmo ali ao lado e Madrid a apenas 360 quilómetros de Castelo Branco.
“Portugal está próximo dos maiores mercados importadores de amêndoa. A Europa importa 42% da produção mundial de amêndoa (maioritariamente concentrada na Califórnia, que produz 82% do total). Alemanha, França e Espanha são os principais mercados europeus de importação e, naturalmente, estamos focados também neles”, justifica David Carvalho. O mercado asiático, segunda região importadora (40%) – com destaque para Índia, Coreia do Sul e Japão – está igualmente na mira do grupo Veracruz.
“Prevemos exportar 70% da nossa produção. Acreditamos que temos vantagens competitivas em relação aos nossos principais concorrentes nos Estados Unidos. Essas vantagens passam por menores custos de produção (mão-de-obra, água, terra) e num produto de qualidade superior, graças às características das variedades de amêndoa mediterrânica”, defende David Carvalho.
O grupo está a olhar para este fruto seco em todas as suas componentes. “O consumo e os fins da amêndoa não param de crescer, até porque diversos estudos demonstram que as proteínas e nutrientes contidos neste fruto seco ajudam na prevenção de doenças degenerativas, na redução do colesterol, na redução de acidentes cardiovasculares e ainda no tratamento de alergias”, diz.
“As oportunidades de negócio que existem no miolo de amêndoa são imensas. Além do consumo do fruto em snacks, há farinha de amêndoa, leite de amêndoa, amêndoa laminada, torrada, etc. A indústria de doçaria e chocolate é, naturalmente, um dos principais clientes. Existe também a produção de óleo de amêndoa e uma diversidade de utilizações na indústria de cosmética”, destaca.
Fábrica de transformação até 2021
O projeto do grupo Veracruz para a região prevê ainda até 2021 a construção de uma unidade de descasque e transformação de amêndoa na região, num investimento que ronda os 6,5 milhões. “Procuramos a melhor localização para a fábrica, que além de transformar a produção da Veracruz, terá capacidade para receber produção de outros produtores locais – promovendo a criação de valor acrescentado e garantindo o escoamento da produção para os mesmos”, diz David Carvalho.
Entre a exploração agrícola e a unidade fabril, o projeto prevê a criação de mais de 50 postos de trabalho diretos e de outros 100 indiretos através de prestação de serviços. Nesta fase contam já com 15 colaboradores. “Não temos tido problemas no recrutamento. Mas, de facto, a escassez de mão-de-obra no campo é uma realidade que se tende a agravar. E, como empresa de futuro, temos de ter esse contexto em conta, daí que sejamos um investimento de smart farming que, entre outras componentes, está a investir em equipamentos de poda e colheita mecanizada, prevendo até a utilização de robótica e inteligência artificial”.