A Organização das Nações Unidas (ONU) manifestou hoje preocupação com a “desaceleração contínua” da implementação do acordo dos cereais do Mar Negro, observada principalmente nos meses de abril e maio.
De acordo com o porta-voz do secretário-geral da ONU, em maio partiram dos portos ucranianos 33 navios de transporte de cereais, metade do número registado em abril.
“Apenas três deles partiram do porto de Yuzhny/Pivdennyi, um dos três portos ucranianos abrangidos pela iniciativa. A Federação Russa informou sobre a sua decisão de limitar os registos ao porto de Yuzhny/Pivdennyi se não for para exportar amónia [substância essencial para a produção de fertilizantes e da qual a Rússia é um dos principais produtores mundiais]”, disse Stéphane Dujarric, porta-voz de António Guterres, em declarações aos jornalistas na sede da ONU, em Nova Iorque.
Além disso, as exportações em maio foram de cerca de 1,3 milhões de toneladas de cereais e outros alimentos – menos da metade face ao mês anterior – e, desde 24 de maio, o número de equipas de inspeção do Centro de Coordenação Conjunta deste acordo foi reduzido de três para dois, indicou a ONU.
“Os registos limitados e as equipas de fiscalização reduzidas contribuíram para a queda do índice médio diário de fiscalização para três. Esta é uma situação séria”, frisou Dujarric.
“Precisamos de seguir em frente. O acordo está vinculado para renovação em 17 de julho. Os focos globais de fome estão a aumentar e o espetro da inflação de alimentos e da volatilidade do mercado espreita em todos os países”, acrescentou.
Segundo o porta-voz, o secretariado da ONU apresentou sugestões práticas a todas as partes que integram o acordo a nível estratégico e operacional e continuará o “intenso envolvimento” com as partes para a plena retomada das operações.
“Em particular, procuramos compromissos sobre o acesso incondicional de embarcações aos três portos do acordo, um maior número de inspeções bem-sucedidas concluídas por dia e registos previsíveis para evitar atrasos indevidos de embarcações, exportações de fertilizantes, incluindo amónia, e a retomada do gasoduto de amónia Togliatti-Odessa”, concluiu.
A continuidade do acordo, que permitiu exportar nos últimos dez meses mais de 30 milhões de toneladas de cereais ucranianos e aliviar a crise alimentar global causada pela guerra, tem estado em discussão com a Rússia e a Ucrânia, sob mediação da ONU e da Turquia.
Moscovo afirma que, apesar de as exportações de cereais ucranianos terem sido retomadas, as exportações russas de fertilizantes e produtos alimentares continuam limitadas por obstáculos relacionados com as sanções impostas pelos países ocidentais após o início da guerra russa na Ucrânia, em fevereiro do ano passado.
No mês passado, as autoridades da Federação Russa avisaram que só se manterão no acordo depois de 18 de julho se forem levantadas as sanções sobre as exportações dos fertilizantes russos.