Mais doce que o açúcar, e sem calorias, a Stevia começa a ser alvo de um interesse cada vez maior por parte dos consumidores e, consequentemente da indústria. Rita Guerreiro produz cerca de 1,2 hectares na sua exploração de ervas aromáticas em Palmela – a maior nacional – e diz que “é uma planta bastante resistente”, salientando que “devido ao nosso clima a qualidade é excecional e conseguimos fazer quatro cortes por ano”, contra apenas um no norte da Europa.
A Aroma das Faias é uma empresa familiar de Rita Guerreiro, do irmão e do pai, Artur Guerreiro, que acompanha toda a produção a par e passo com a filha, na exploração que têm no Poceirão, em Palmela, em cerca de 14 hectares de terrenos alugados. Esta é já a maior produtora nacional de ervas aromáticas, com cerca de 30 toneladas em 2018, sendo a quase totalidade da produção destinada à exportação, principalmente para o norte da Europa.
A ideia da empresa começou com o irmão de Rita, Rui Guerreiro (ainda sócio) e um amigo, mas em 2013 a engenheira do Ambiente cansou-se de “perder horas no trânsito, todos os dias, no trajeto para o emprego em Lisboa” e decidiu agarrar nesta ideia de produzir ervas aromáticas em modo biológico.
“Fomos à BioFach perceber o que o mercado procurava e ver preços, e decidimos que queríamos diversificar e ter algo diferente, como a Stevia, mas com uma boa quantidade de cada espécie para ser aliciante para os clientes, porque há muito interesse em lotes grandes, por parte dos clientes industriais”, conta à VIDA RURAL.
Qualidade paga-se
“A nossa qualidade é muito superior, em todas as ervas aromáticas, por isso os importadores procuram-nos cada vez mais”, salienta Rita Guerreiro, adiantando que o preço conseguido também é superior mas não tanto com devia: “já lhes disse muitas vezes que essa qualidade, de que tanto gostam, tem de se pagar. Porque eles processam o produto e vendem-no a um preço muito mais elevado”. A Aroma das Faias seca as plantas inteiras e vende-as em big bags, a maior parte à NaturDelta, que as envia para importadores principalmente do norte da Europa. “Ofereceram-nos um preço justo mas não temos exclusividade, por isso podemos exportar também diretamente e vender cá em Portugal”.
Para valorizar mais o produto, principalmente para a venda em lojas Bio no mercado nacional, a empresa está a criar uma marca para embalar algumas das suas ervas aromáticas, nomeadamente para tisanas e chás, mas igualmente em bolachas”.
Além da Stevia (1,2 hectares), Rita Guerreiro produz também Lúcia-Lima (2 hectares), Cidreira (0,5hectares), Tomilho (2hectares) e Tomilho Limão (2hectares), Hortelã (2hectares) e Hortelã-Pimenta (2hectares) e diz-nos que “apesar de menos vulgar, a Stevia não é muito valorizada. O Tomilho-Limão é, nesta altura, o produto mais valorizado”.
Uma planta resistente
A exploração tem, nesta altura, algumas produções com tela e outras sem essa proteção porque “quando começámos visitámos alguns produtores e diziam-nos que a tela tinha vantagens – principalmente o controlo das infestantes – e desvantagens, dependendo do terreno”, explica a agricultora. “Como aqui temos terrenos mais arenosos, com melhor drenagem, e outros mais argilosos, com maior risco de encharcamento, decidimos fazer plantações mistas”.
Por cá a procura de Stevia ainda não é significativa, mas lá fora esta planta tem cada vez mais mercado. Rita afirma que “é uma planta bastante resistente” a pragas, doenças e infestantes (um dos maiores problemas, daí a opção por colocar tela, mas a produtora diz-nos que também quer experimentar sem tela), salientando que “devido ao nosso clima a qualidade é excecional e conseguimos fazer quatro cortes por ano”, contra apenas um no norte da Europa. E frisa: “O maior problema são os coelhos e as toupeiras que, se não estivermos atentos, comem-na toda porque a planta é muito doce e eles adoram!”.
A Stevia (Stevia rebaudiana) naturalmente tem um sabor muito forte que, “a indústria faz um grande esforço para retirar”, refere a produtora, mas “a nossa não tem um sabor muito intenso”, talvez devido às nossas condições edafoclimáticas.
A exploração tem rega gota-a-gota, de “dois furos e, felizmente, temos sempre tido água”, e aduba as plantas pelo sistema de fertirrega, sendo “quase igual para todas as espécies, com pequenas diferenças, colocando mais ou menos composto orgânico, com destaque para o azoto”.
Daqui a dois anos tudo vai ser replantado
A plantação foi feita com recurso a milhares de plantas “e o resto fomos depois fazendo nós por estacaria”, conta Rita, acrescentando que “a plantação, no global, já tem cerca de quatro a cinco anos por isso daqui a dois anos será tudo replantado, apesar de deixarmos sempre cerca de dois hectares por ano em pousio e onde colocamos estrume, para podermos rodar a produção”.
As plantas são cortadas com máquina e secas num secador – que controla humidade, temperatura e ventilação –, que a Aroma das Faias tem no pavilhão que construiu em 2013, num investimento de 400 mil euros, comparticipado em 50% por fundos europeus.
Na exploração, além de Rita, trabalha a tempo inteiro apenas Victor, sempre acompanhado pelo pai de Rita, Artur, já reformado e que se dedicou de alma e coração a este projeto da filha. “Em épocas específicas contratamos entre dois a quatro trabalhadores temporários, consoante as necessidades”, informa a agricultora.