Luís Pereira, presidente da Câmara Mundial de Vila Velha de Ródão, defende maior intervenção das autarquias nas políticas para a floresta.
Qual o impacto socioeconómico da floresta no concelho de Vila Velha de Rodão?
A fileira florestal tem um impacto muito relevante em Vila Velha de Ródão, pois é a principal empregadora do concelho, através do cluster de empresas ligadas à transformação de madeiras e seus derivados, que está instalado na sede de concelho. A este aspeto há a somar a criação de emprego indireto, através das empresas que lhes prestam serviços associados, assim como toda a dinâmica económica que se reflete, também, nos setores da restauração e alojamento, entre outros.
No que respeita à área florestal, a nível municipal, as grandes manchas de floresta de eucalipto de produção são geridas quer por conta própria, quer por arrendamento, pela Afocelca (agrupamento complementar de empresas dos grupos Altri e The Navigator Company), que criam as subsequentes mais valias da sua gestão. No concelho de Vila Velha de Ródão são também significativos os aproveitamentos da mancha de pinho bravo para serração e, na zona localizada mais a Este, a gestão dos montados de sobro e azinho aí existentes.
Quais os principais desafios que o município enfrenta na gestão da área florestal?
Um dos principais desafios nesta área prende-se com a alteração do paradigma que leva à existência de muitas áreas florestais concelhias, principalmente com coberto de pinheiro-bravo e/ou arbustivas, sem qualquer gestão e com enormes cargas de combustível, situação que deriva do progressivo abandono da propriedade florestal e de um associativismo florestal incipiente.
O facto da maioria do espaço florestal do concelho ser propriedade privada conduz também a dificuldades de implementação de medidas de Defesa da Floresta contra Incêndios (DFCI), em escalas de maior amplitude. Apesar de as pessoas estarem cada vez mais sensibilizadas para a importância da gestão dos combustíveis e de manterem as suas propriedades limpas, nem sempre é fácil mobilizar os proprietários a investirem nestas ações, especialmente quando estão em causa terrenos de onde não retiram rendimentos.
“Tendo em conta a importância da floresta e o impacto que os incêndios florestais têm tido no nosso território, a proteção da floresta está entre as principais preocupações desta autarquia.”
Que ações têm sido desenvolvidas pela autarquia de Vila Velha de Ródão em prol da floresta?
Tendo em conta a importância da floresta e o impacto que os incêndios florestais têm tido no nosso território, a proteção da floresta está entre as principais preocupações desta autarquia. Não descuramos por isso a execução anual das Faixas de Gestão de Combustível da Rede Viária Florestal municipal e os melhoramentos de caminhos rurais com interesse relevante no combate a incêndios e temos uma participação ativa na implementação das Faixas de Proteção a Aglomerados Populacionais e a Edificações em Espaço Rural.
Com o intuito de reduzir a superfície percorrida por grandes incêndios e minorar os efeitos da sua passagem, procedemos também à execução de Faixas de Gestão de Combustível da Rede Primária. De forma a sensibilizar a população e divulgar informação relevante nesta matéria junto dos potenciais interessados, colaboramos com outras entidades – do Instituto da Conservação da Natureza e Floresta, à GNR ou Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, por exemplo, – em ações e campanhas que tenham por temática a floresta e a sua proteção.
Face aos desafios que a floresta enfrenta atualmente e que se prendem não só com o abandono da propriedade florestal e os incêndios, mas também com as alterações climáticas ou o uso inadequado dos solos, as autarquias têm um papel fundamental dada a proximidade às populações, e devem ser cada vez mais interventivas na definição de políticas de gestão da floresta que permitam responder a estes desafios.
O artigo foi publicado originalmente em Produtores Florestais.