Nos últimos anos a região mais a sul do baixo Alentejo tem sido severamente afetada pela escassez de precipitação, em contraste com outras regiões do Pais. Esta situação tem levado a um grande défice hídrico em toda esta região, com o esgotamento de todas as reservas superficiais, sendo o caso mais evidente a situação da albufeira do Monte da Rocha, que apenas dispõe de 14% da sua capacidade. Nesta altura, para além de já estar fora de questão a realização de culturas anuais de regadios, poderá está em causa a subsistência das culturas permanentes, o abastecimento industrial, o abeberamento e o abastecimento público.
A albufeira do Monte da Rocha, com uma capacidade de 104.500.000 m3, deveria ser o principal garante de água para o sul do baixo Alentejo. Para além de ter associado um importante ecossistema que serve de base à biodiversidade da região, abastece 6100 ha de regadio altamente produtivo, abastece indústrias, tais como o matadouro do litoral alentejano e fornece água potável para os concelhos de Ourique, Castro Verde, Almodôvar e parte dos concelhos de Odemira e Mértola. Com a escassez de água sistémica, em toda esta região antevê-se a ameaça da desertificação física, que se junta a alguma desertificação humana já existente.
Nada que os caprichos do clima não possa alterar em poucas semanas, dirão alguns. Até poderá ser que assim seja, mas a frieza das estatísticas e das projeções dizem-nos que estamos perante um problema real, crescente, estrutural, pelo que não devemos ficar sentados e esperar que S.Pedro faça milagres quando nós poderíamos e deveríamos fazer mais.
O projeto de Alqueva e os seus 120.000 ha não contemplaram esta região mais a sul do Alentejo. Inexplicavelmente a anunciada expansão de Alqueva também deixou de fora esta parte do território Nacional. Nesta altura a albufeira do Monte da Rocha será a única grande barragem do Alentejo a ser excluída dos investimentos de Alqueva para ligar a dita “grande mãe de água” e assim dar garantia de abastecimento ao “Alentejo”.
A adução de água a esta região, em particular á albufeira do Monte da Rocha, permitiria:
– Garantir água de qualidade para o abastecimento público do sul do baixo Alentejo;
– Garantir água para a totalidade do regadio existente no Aprov.Hidroagrícola do Alto Sado (6.100 ha);
– Melhorar o ecossistema associado à albufeira do Monte da Rocha e a melhoria da biodiversidade que lhe está associada;
– Criar o bloco de rega de Ourique, com mais 10.000 a 15.000 ha de regadio;
– Melhoria dos sistemas silvipastoris extensivos existentes (o novo regadio permitiria a obtenção de forragens em alturas de défice, oferecendo uma maior garantia de sucesso destes efetivos);
– Viabilizar projetos turísticos que estão parados por carência de água na albufeira do Monte da Rocha, ou novos projetos que venham a surgir;
– Viabilizar a instalação de unidades industriais que venham a carecer de abastecimento de água.
São razões mais que suficientes para se refletir e encarar com determinação o empreendimento da ligação entre o sistema de Alqueva e a albufeira do Monte da Rocha, encontrando-se a melhor solução técnica e os financiamentos necessários para a execução desta obra.
Esquecidos, na esperança de que o poder politico desperte para esta necessidade, os Alentejanos do sul vão esperando ou morrendo, mas não …sentados.
Ilídio Martins – ARBCAS
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