Ao Jornal Económico, Teresa Presas, secretária-geral do Fórum da Sustentabilidade da Navigator com uma carreira de 35 anos na indústria do papel, lembra que a bioeconomia já apresenta 41 mil milhões de euros em volume de negócio e que a indústria da madeira está a crescer a olhos vistos.
Quais as conclusões que saíram do Fórum da Sustentabilidade?
A 16.ª sessão do Fórum de Sustentabilidade foi dedicada ao tema ‘Sustentabilidade da matéria-prima florestal’, uma temática da maior importância para o sector e as empresas da fileira florestal, mas também para a construção de um modelo económico mais sustentável. A sessão ajudou a perceber o panorama que caracteriza as matérias-primas à escala global (e os seus custos crescentes), os desafios com que se depara o sector florestal e, entre outros, que riscos e oportunidades se colocam à concretização do potencial da floresta.
Apesar de a gestão ativa representar um elemento fundamental na atração e retenção de empresas e pessoas no mundo rural, combatendo as assimetrias regionais e a desertificação do interior, persistem constrangimentos na matéria-prima com consequências ao crescimento da indústria e, sobretudo, ao desenvolvimento da economia portuguesa. Esta sessão mostrou que a floresta é uma oportunidade que podemos estar a desperdiçar, ainda mais quando está em causa um fator diferenciador de Portugal enquanto país, com provas dadas ao longo de décadas.
Os vários intervenientes no Fórum salientaram a importância de ter uma visão de longo prazo e de um posicionamento favorável à bioeconomia circular de base florestal, sendo fundamental um quadro regulatório capaz de criar condições para resolver as questões estruturais da floresta. Importa definir com clareza as oportunidades que o país tem, apoiando e estimulando a iniciativa privada a desenvolver essas oportunidades.
Para tal, é importante que este tipo de encontro e debate da fileira floresta aconteça de forma mais frequente.
O ministro da Economia disse que a bioeconomia é “uma necessidade e emergência”. Qual o contributo da floresta para acelerar este modelo económico?
Só em Portugal, a bioeconomia já representa um volume de negócios de 41 mil milhões de euros, sendo que o sector das florestas, suportado em grande medida pelas indústrias da fileira florestal, gera 24% do volume de negócios da bioeconomia (9,8 mil milhões de euros) e 11% do emprego (cerca de 76,5 mil postos de trabalho), segundo o relatório Bioeconomia 2030. Estes dados são bem elucidativos da importância do sector florestal e do seu papel para facilitar este modelo de desenvolvimento e a criação de bioprodutos a partir de soluções renováveis presentes na natureza. Acelerar a produção de alto valor acrescentado a partir de recursos biológicos, em alternativa à utilização de recursos de origem fóssil, promovendo a transição climática e o uso sustentável e eficiente de recursos, não é possível sem a floresta.
Todos conhecemos os méritos da bioeconomia de base florestal. Precisamos de uma estratégia de valorização da floresta para concretizar todo o seu extraordinário potencial.
Não podemos igualmente esquecer o contributo da floresta para alcançar as metas climáticas do país, dado o seu especial contributo para o sequestro de carbono.
Mas há falta de matéria-prima para alimentar todas as necessidades. Que soluções podem ajudar a colmatar rapidamente a necessidade de matéria-prima e contribuir para a bioeconomia?
A floresta tem hoje todas as componentes para ser uma atividade “efervescente”. Converteu-se já numa grande protagonista da mudança renovável. Creio que a gestão responsável da floresta e o desenvolvimento de soluções inovadoras permitem a esta matéria-prima tradicional reivindicar o seu papel agora e no futuro. Ou seja, a gestão sustentável dos recursos florestais pode ser a ferramenta para que uma das matérias-primas mais antigas usadas pelo Homem se torne a matéria-prima do século XXI.
Como referiu um dos keynote speakers do evento, não falta madeira no mundo. No entanto, em muitas geografias a sua extração de forma sustentável não é economicamente viável. Por outro lado, a procura de madeira está a crescer a nível mundial, apesar de os incentivos para novas plantações serem cada vez mais reduzidos. Só em 2022, foram consumidos 3,9 mil milhões de metros cúbicos de madeira em todo o mundo e a tendência é para que este número continue a aumentar. Isto ao […]