A informação tem vindo a ganhar uma importância crescente em todos os sectores de actividade económica, no que culminou com o advento da chamada sociedade da informação, regida pelas leis da nova economia, que tem no recurso informação o seu elemento estruturante.
Para Kelly (1997), esta nova economia é, muitas vezes, denominada de Economia da Informação pelo papel crucial da informação na criação de riqueza, substituindo, até certo ponto, os tradicionais recursos terra, trabalho e capital.
Esta realidade tem o seu expoente máximo na rede das redes, a Internet, onde a quantidade de informação disponível cresce a um ritmo alucinante, tornando estratégica a sua utilização como fonte de informação para apoiar as decisões dos agentes económicos, mas, simultaneamente, tornando essa gestão numa tarefa cada vez mais complexa.
De facto, a informação tem um papel crucial na tomada de decisões acertadas e em tempo útil. A tomada de decisão pode ser definida como um conjunto de etapas que passam pelo reconhecimento da necessidade de uma decisão, seguido de uma análise do problema, duma pesquisa de alternativas para resolver o problema, da escolha de uma alternativa (decisão) e, finalmente, da aplicação da alternativa seleccionada para resolver o problema.
Segundo Witschnig (1997), este processo é, essencialmente, acompanhado pela necessidade de informação em cada uma das suas etapas. Primeiro, é necessária informação para definir o problema, depois, é necessária informação para encontrar e avaliar as alternativas e, por último, após a decisão, é necessária informação adicional para controlar a aplicação da alternativa seleccionada. Indo mais longe, Zorrinho (1995) defende que decidir é, antes de mais, processar informação ou, conforme Pinto e Caldeira (1995), todo o processo de decisão pode ser visto como aquisição e transformação de informação.
A informação a recolher, tendo em vista satisfazer as necessidades do processo de tomada de decisão, tem de respeitar as suas três dimensões, isto é, obedecer a algumas condições de ordem temporal, de conteúdo e de forma (Hagg et al, 1998):
- A dimensão temporal da informação engloba características de oportunidade (informação quando é necessária) e actualidade (informação actualizada);
- O conteúdo é a dimensão da informação geralmente considerada como a mais crítica. Entre os aspectos que deve cobrir, incluímos a exactidão (informação livre de erros), relevância (informação relacionada com o problema) e cobertura (informação que cobre com detalhe suficiente a totalidade do problema);
- A última dimensão da informação, a forma, lida com o aspecto de como a informação é fornecida. As suas características incluem o detalhe (informação com o grau de pormenor adequado – granularidade) e apresentação (informação apresentada no formato mais adequado).
Assim, para apoiar qualquer tomada de decisão, é crucial dispormos da informação correcta (conteúdo) no momento em que é necessária (tempo) e no formato adequado (forma).
Convém, no entanto, chamar a atenção para a necessária distinção entre o que são dados, o que é informação e o que é conhecimento. Informação não é mais do que aquele conjunto de dados que, quando fornecido de forma e no tempo adequado, melhora o conhecimento da pessoa que o recebe, ficando ela mais habilitada a desenvolver determinada actividade ou a tomar determinada decisão. Uma ilustração desta distinção pode ser, por exemplo, uma série de 30 anos de dados de uma determinada variável meteorológica, que são convertidos em informação mediante a aplicação de um determinado tratamento estatístico, sobre o qual vai interagir o decisor, aplicando a sua experiência e o seu conhecimento e tomando decisões.
Quando pensamos na actividade agrícola em particular, a importância que o recurso informação tem vindo a ganhar deve-se, essencialmente, à complexidade duma actividade onde a incerteza associada à variabilidade climática, à variabilidade das características espaciais e à diversidade das plantas e animais utilizados, é proporcionalmente maior do que noutros ramos de actividade. Esta complexidade é ainda acrescida por uma forte regulamentação subjacente ao enquadramento político e legal induzido nomeadamente pela Política Agrícola Comum, pelos Acordos Mundiais de Comércio, etc.
De facto, as empresa ou empreendimentos agrícolas, vivem num processo de sucessivas tomadas de decisão sobre o modo como agir sobre o ambiente, as plantas e os animais, pelo que têm uma necessidade permanente de recorrer à informação. Do nosso ponto de vista, a Internet e em particular a Word Wide Web, possuí características que a tornam um meio de comunicação particularmente vocacionado para servir de suporte a sistemas de informação que apoiem os mais variados tipos de tomada de decisão do empresários agrícolas, especialmente ao nível táctico e estratégico.
Assim, graças à possibilidade oferecida pela Web de interligar recursos multimédia (textos, imagens e sons), este serviço da Internet tem vindo a ganhar uma importância crescente como fonte de informação nos mais diversos sectores de actividade, nomeadamente devido ao crescimento exponencial da quantidade de informação aí disponível.
Para Shapiro e Varian (1998), o valor da Internet reside, precisamente, na sua capacidade de fornecer acesso imediato à informação. No entanto, aqueles autores referem que, actualmente, o problema já não é o do acesso à informação mas, sim, o do excesso de informação, residindo o verdadeiro valor produzido pelos fornecedores de informação neste meio na localização, filtragem e comunicação daquela informação que, realmente, tem utilidade para o decisor.
Deste modo, com o desenvolvimento da Internet, temos assistido ao aparecimento de diversos serviços de informação que, de alguma forma, auxiliam os utilizadores deste meio de comunicação na sua procura de informação. De seguida, apresentaremos os diferentes tipos de mecanismos de pesquisa actualmente disponíveis na World Wide Web, chamando desde já a atenção para o facto de, na realidade, o que existe são sites híbridos que disponibilizam diversos tipos de ferramentas de pesquisa no mesmo local. No entanto, conceptualmente é relevante fazer a distinção das suas filosofias e processos de recolha e disponibilização de informação.
- Motores de pesquisa – suportados por bases de dados onde estão indexadas automaticamente um conjunto mais ou menos vasto de páginas da Web sem qualquer intervenção humana.
Ex.: Google – http://www.google.com - Meta-motores de pesquisa – também denominados de motores de pesquisa múltiplos, permitem a pesquisa simultânea em vários motores de pesquisa num só local, sendo os resultados apresentados conjuntamente, geralmente numa única página e sem redundância de informação.
Ex.: MetaCrawler – http://www.metacrawler.com - Directórios de Informação – serviços de informação em que uma organização procedeu à recolha e classificação de um conjunto de sites da World Wide Web.
Ex.: SAPO (1ª Geração) – http://www.sapo.pt - Serviços de Avaliação e Classificação – serviços que utilizam classificações numéricas ou pontuações, por exemplo número de estrelas, para indicar a qualidade de um site, sendo normalmente avaliada em termos superficiais, por exemplo com base em atributos visuais.
Ex.: PC Magazine Top 100 Web Sites – http://www.zdnet.com/pcmag/special/web100/ - Portais – pretendem ser verdadeiras portas de entrada para a Web, forneceem normalmente um conjunto diversificado de serviços, nomeadamente um conjunto de sites devidamente classificados, um boletim noticioso, previsões meteorológicas, oportunidades de negócio, etc.
Ex.: Agroportal – https://www.agroportal.pt - Gateways Temáticos – serviços que são desenvolvidos por especialistas em gestão de informação e/ou especialistas num determinado tema, com o objectivo explícito de proporcionar o acesso a fontes de informação de elevada qualidade.
Ex.: SII@ – http://agricultura.isa.utl.pt/siia - Ferramentas de pesquisa especiais – existem ainda muitas outras opções para procurar informação na Internet, tais como serviços especiais para pesquisar grupos de discussão, para procurar endereços de E-mail, agentes de software, etc.
Ex.: The Informant – http://informant.dartmouth.edu
Os portais representam, actualmente, o modelo de serviço de informação mais bem sucedido comercialmente na Internet. Segundo Salvaggio e Bauwens (1999), os portais têm uma importância crítica nesta economia da atenção, na medida em que controlam os destinos duma parte substancial do tráfego da Internet pois, ainda de acordo com estes autores, os 10 sites mais visitados do mundo (nos quais encontramos os principais portais), são utilizados por 90% dos utilizadores. Verificamos ainda, actualmente, uma tendência nítida para a especialização destes serviços de informação no sentido de se tornarem os denominados vortais (portais verticais), como é exemplo o presente AgroPortal.
Relativamente aos “gateways”, este resultaram dos esforços de profissionais da informação e de especialistas de várias áreas, numa tentativa de controlar este espaço de informação em franca expansão que é a Internet. Estes serviços colocam no centro da questão a identificação recursos de qualidade para audiências definidas (Agnostelis e Cox, 1996). Os “gateways” temáticos são, normalmente, projectos não comerciais e desenvolvidos pelos centros de ensino/investigação ou de documentação/bibliotecas, que têm como objectivo seleccionar, recolher e avaliar recursos disponíveis na rede numa determinada área de interesse. Do nosso ponto de vista, o serviço que desenvolvemos – o Sistema Integrado de Informação @grícola, tenta enquadrar-se neste grupo.
A importância destes serviços, que apoiam a pesquisa de informação, aumenta na proporção directa da quantidade de recursos electrónicos disponíveis na área de interesse coberta. Quando analisamos o panorama agrícola nacional, verificamos que, após uma fase inicial em que o ciber-espaço agrícola nacional estava fracamente povoado, assistimos actualmente a um forte aumento da utilização da Internet como via de comunicação para os mais diversos agentes do sector agrícola nacional, pelo que estes serviços ganharam rapidamente um espaço próprio na Web agrícola nacional.
No entanto, ainda existe um longo caminho a percorrer. De facto, quando analisamos as possibilidades actualmente disponibilizadas pelas tecnologias subjacentes a este meio de comunicação, bem como o panorama agrícola a nível internacional, verificamos que ainda existe um longo caminho a percorrer. Assim, , ainda são escassos os recursos disponíveis na web agrícola nacional que utilizam de uma forma consistente as possibilidades oferecidas, por exemplo, pelas bases de dados para suportar sistemas de informação dinâmicos, pela utilização de funcionalidades SIG on-line , pela disponibilização de sistemas de apoio à decisão on-line, etc.
Um outro conjunto de factores que, esperemos, irão induzir um aumento destas presenças agrícolas nacionais na Internet são, sem dúvida, as novas infra-estruturas de acesso (cabo, ADSL, etc.), a Internet móvel, etc.. Esta evolução irá culminar no que alguns denominam de Internet invisível, isto é, ela fará parte integrante do nosso quotidiano como o fazem o rádio, a televisão ou o telefone.
Para terminar, não podemos deixar de referir uma iniciativa promovida por um grupo de pessoas que se interessam por esta temática e que, com o objectivo de promover a divulgação, adopção e utilização das tecnologias de informação e comunicação na agricultura portuguesa, estão a preparar o lançamento da APDTICA – Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Tecnologias de Informação e Comunicação na Agricultura.
O lançamento da APDTICA terá lugar no final do seminário internacional “Digital Agriculture” que contará, entre outros, com a presença de especialistas internacionais na área das novas tecnologias de informação e comunicação em agricultura e ainda com a presença institucional da EFITA – European Federation for Information Technology in Agriculture. Neste seminário serão abordadas questões como a adopção das tecnologias de informação e comunicação no sector agrícola, as potencialidades da utilização da Internet como suporte a serviços de apoio à gestão, as novas tecnologias de informação e comunicação ao serviço da investigação em agricultura, as novas tecnologias de informação e comunicação na gestão da empresa agrícola, etc.
Esta iniciativa terá lugar no próximo dia 26 de Outubro pelas 14 horas no Pavilhão de Exposições do Instituto Superior de Agronomia (inscrição e outras informações disponíveis on-line) e está incluída no programa do III JopShop de Agronomia que se realiza nesse local de 24 a 27 de Outubro.
Miguel de Castro Neto
Doutorando da Secção de Agricultura do Instituto Superior de Agronomia
URL: http://agricultura.isa.utl.pt/mneto.asp
E-mail: mneto@isa.utl.pt
Referências
Agnostelis, Betsy and Cox, John, “Data on the Internet: Evaluating the Quality or “Less is More” in C.J. Armstrong and R. J. Hartley (eds.), http://kolug96@warwick.ac.uk
Haag, S., Cummings, M. and Dawkins, J. (1998). Management Information Systems for the Information Age. Irwin / McGraw-Hill, Boston, Massachuesetts.
Kelly, Kevin (1997). “New Rules for the New Economy”. Wired, Issue 5.09, http://www.wired.com/wired/archive/5.09/newrules_pr.html
Pinto, Pedro A. e Caldeira, Carlos (1995). Sistemas Integrados de Apoio à Decisão em Agricultura. Informação e Agricultura. Agro-Economia, Nr. 2, pp:62-65.
Salvaggio, S. A. and Bauwens, M. (1999). Web Portals, USWeb/CKS Observatory of the Digital Economy. http://www.digitalobservatory.com
Shapiro, Carl and Varian, Hal R. (1998). Information Rules: A Strategic Guide to the Network Economy, Harvard Business School.
Witschnig (1997). Aspects of Modelling Information Flows within an EIS for the Food Industry. Proceedings of the First European Conference for Information Technology in Agriculture, The Royal Veterinary and Agricultural University
Copenhagen, Denmark, 15-18 June.
Zorrinho, Carlos (1995). Gestão da Informação – Condição para vencer. IAPMEI – Instituto de Apoio às Pequenas e Médias