A Associação de Viticultores Profissionais do Douro adiantou hoje que a seca que assola o país não tem grande impacto no presente, porque esta é uma fase de “repouso vegetativo”, mas levanta questões “de médio e longo prazo”.
“Fazemos a campanha da primavera/verão, muito graças àquilo que choveu no outono/inverno, ou seja, a chuva que cai nos meses de outono e inverno constitui a nossa reserva para os meses de crescimento, para a primavera e para o verão”, explicou à Lusa o presidente da associação ProDouro, Rui Soares.
O produtor esclareceu que, “no momento presente, a seca não é preocupante, porque a grande maioria das culturas estão em fase de repouso, seja a vinha, seja o olival, as fruteiras, estão todas em fase de repouso vegetativo”.
“Agora, o que é que nos preocupa? É a falta dessa reserva, desse banco de água, que, mais à frente, se não houver chuva, vai-nos fazer falta”, acrescentou.
É por isso que reitera que “os efeitos da seca não são tanto a nível do curto prazo – não é tanto a água que faz falta agora –, é mais a água que pode fazer falta no futuro, nomeadamente na primavera/verão”.
Rui Soares esclareceu ainda que aponta para efeitos “de médio e longo prazo”, porque “a vinha é uma cultura perene – não é uma cultura de três ou quatro meses, é uma cultura de anos”.
“Aquilo que acontece hoje tem impacto naquilo que acontece no futuro. Há uma relação direta causa-efeito”, insistiu.
Na passada sexta-feira, fonte do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) indicou à Lusa que a região Norte, em nível de seca fraca desde novembro, pode passar ao nível de seca moderada se não chover até ao final do mês.
Há, no entanto, “pontos com seca moderada” em Trás-os-Montes, que poderão evoluir para seca severa.
O IPMA distingue quatro níveis de seca: fraca, moderada, severa e extrema.
Em declarações à Lusa, o diretor-geral da Associação dos Jovens Agricultores de Portugal (AJAP), Firmino Cordeiro, notou, na quarta-feira, que “chegar a meados de janeiro com pouca água acumulada no solo é terrível”.
“É terrível para as culturas que tradicionalmente se fazem nessa região mais litoral, como o vinho verde, milho de silagem, milho branco, outras fruteiras, kiwi, limoeiros, horticulturas ao ar livre, quase sem regadio, na zona de Póvoa de Varzim e outras zonas daquela mesma região do Entre Douro e Minho”, detalhou.
Já na região de Trás-os-Montes e Alto Douro, as culturas de sequeiro, como “o olival tradicional, o amendoal, as vinhas na região do Douro” vivem em “solos muito débeis, à base de xisto, com pouca matéria orgânica, solos com pouca capacidade de retenção da água”.
“Nessas zonas, a água, quando chove de forma regular no inverno e na primavera, fica retida naquelas camadas. Se ela desaparece, se ela não entra, ela não está lá. Dizima a cultura deste ano e dificulta a cultura do ano seguinte, porque a planta tem de acumular reservas para as futuras rebentações do ano a seguir”, explicou o dirigente da AJAP.
Para o diretor da Associação dos Agricultores e Pastores do Norte, João Morais, a seca “ainda não é uma situação alarmante” no Norte do país.
O engenheiro agrícola esclareceu que a região sofre de “uma seca meteorológica, não uma seca hidrológica, como existe no Sul”, e isso acontece “porque ainda há água nos solos”.
Ambos os representantes do setor concordaram, no entanto, que é necessário que chova em fevereiro para que as culturas não fiquem comprometidas.