A seca que assola o país não está a afetar o regadio de Óbidos, cuja barragem está próxima da cota máxima, mas a associação de regantes reclama medidas mais ambiciosas para responder às alterações climáticas.
O presidente da Associação de Beneficiários do Plano de Rega das Baixas de Óbidos, Filipe Ferreira, disse hoje à agência Lusa a falta de chuva não está “a prejudicar as culturas da região”, sublinhando que nesta altura do ano “as vinhas e os pomares não precisam de ser regados e os hortícolas sobrevivem com pouca água no inverno”.
Ao contrário de zonas como o Alentejo, onde o cultivo de cereais necessita de mais água, na região Oeste, onde os solos são mais argilosos, “a própria humidade noturna é suficiente para a maioria das culturas”, disse.
Nos 800 hectares de regadio das baixas de Óbidos, no distrito de Leiria, a água para a rega é assegurada pela barragem do Rio Arnóia que, segundo o presidente da associação, se encontra perto da cota máxima de armazenamento” da albufeira com 32 metros de altura.
“Esta barragem tem uma bacia hidrográfica muito boa, algo extensa para o tamanho da barragem em si, e que enche com muita facilidade mesmo em anos como este em que pouco choveu”, explicou Filipe Ferreira, considerando este “um bom exemplo do muito que o país tem feito nesta matéria”.
Porém, vincou, “é preciso ser mais ambicioso, porque as alterações climáticas assim o obrigam: cada vez vai chover menos e, quando chove, chove muito em pouco tempo”. Sendo que, acrescentou, “serão chuvas de enxurradas, que não ficam no solo, não ficam retidas e que têm que ser armazenadas para não irem para o mar”.
O responsável pela associação defende a construção de mais barragens de grande dimensão, bem como de pequenas represas que “ajudem a água a infiltrar-se e renovar os aquíferos”, mas também que Portugal siga o exemplo de países com a vizinha Espanha, ao nível “dos transvases de rios e entre barragens” situação aliás, já replicada a nível nacional na zona da Cova da Beira.
Filipe Ferreira exemplificou ainda com o caso de Israel, um dos primeiros países a implantar o sistema de rega gota a gota, para vincar que em Portugal “também é preciso ir mais longe no uso eficiente da água”, com a expansão de sistemas mais modernos, como a rega controlada através de sondas “que conseguem dar informação sobre as necessidades de água das plantas e sobre quando, como e em que quantidade devem ser regadas”.
Entre os projetos que estão a ser desenvolvidos no país destacou o “Mais Tejo”, que se caracteriza pela construção de vários açudes ao longo do rio para irrigar a zona do Ribatejo e que, no seu entender, “poderia servir também para irrigar o Oeste e até algumas zonas do Litoral Alentejano que nos últimos anos tem tido problemas de falta de água e onde as barragens estão abaixo dos caudais mínimos durante muito tempo”.
A seca e o baixo nível de armazenamento de água nas barragens portuguesas preocupam as organizações de agricultores que alertam para o perigo de, se não chover até fevereiro, ficarem em risco culturas de Norte a Sul do país.
Alentejo, Algarve e Nordeste Transmontano são, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), as regiões mais afetadas pela situação de seca moderada que o país atravessa e “se, entre o final de janeiro e fevereiro, não houver precipitação, poderá agravar-se imenso”, segundo a climatologista Vanda Cabrinha, em declarações à Lusa na semana passada.
A falta de chuva levou várias organizações de produtores a alertar para os riscos ao nível das pastagens para animais e de culturas como frutas e hortícolas que poderão vir a escassear a médio prazo.