A Associação Distrital dos Agricultores de Castelo Branco (ADACB) está muito preocupada com a falta de chuva na região, que já está a ter impactos nas pastagens e que poderá afetar “gravemente” as culturas de primavera/verão.
“Estamos muito preocupados. Há muito tempo que não chove, não há humidade no solo e assim as pastagens não se desenvolvem, o que traz custos extra para alimentar dos animais”, afirmou, em declarações à agência Lusa, Mesquita Milheiro, presidente da ADACB, que tem sede no Fundão.
O responsável sublinhou que com as pastagens de outono/inverno afetadas, os produtores têm de recorrer à compra de feno e rações, tendo de enfrentar “um custo acrescido”.
Os impactos que a situação também poderá ter nas culturas de primavera/verão, caso continue sem chover nos próximos meses, é outro motivo de apreensão para os agricultores, principalmente para os que não estão abrangidos pela área de regadio.
“Se não chover em fevereiro e março e com abundância, então pode ser mesmo um descalabro, porque o milho, as horticulturas e os pomares precisam de água. Se tivermos os solos secos e não houver água para regar, as coisas complicam-se”, apontou.
Este dirigente lembra que, caso a situação se mantenha, pode haver agricultores que tenham de reduzir a área de cultivo e outros que desistam mesmo de avançar com as culturas, o que também se traduzirá em prejuízos.
“As culturas de primavera/verão são uma das principais fontes de rendimento dos agricultores, se também isso se perder, então, como já disse, é um descalabro”, fundamenta.
Mesquita Milheiro sublinha ainda que esta situação mostra mais uma vez a importância de haver regadio e volta a reivindicar a concretização do projeto do Regadio a Sul da Gardunha e a reestruturação do Regadio da Cova da Beira, com a inclusão de áreas que estão excluídas do perímetro de rega e com o alargamento a zonas não abrangidas.
Contactado pela Lusa, o presidente da Associação de Beneficiários do Regadio da Cova da Beira, António Gomes, explicou que existem reservas para assegurar a campanha de 2022, mas ressalvou que existe alguma apreensão com a situação geral.
Segundo explicou, se a situação de seca se agravar e se não chover até abril, poderá ter de cortar o fornecimento de água fora da área de regadio para as culturas sazonais.
António Gomes alertou ainda que o “problema mais premente” se prende com o abeberamento dos animais.
Segundo disse, já chegaram à associação alguns pedidos e espera-se que a Agência Portuguesa do Ambiente possa resolver essa situação dentro da próxima semana.
Mais de metade do território de Portugal continental (57,7%) estava no final de dezembro em situação de seca fraca, tendo-se registado uma ligeira diminuição na classe de seca severa e um aumento na seca moderada, segundo dados do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
De acordo com o índice meteorológico de seca (PDSI) do IPMA, no final de dezembro mais de metade do território (57,7%) estava em situação de seca fraca, 27,3% em seca moderada, 8,7% em seca severa e 6,3% normal.
O Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH) divulgou dados no início de janeiro dados que indicam que as bacias do Barlavento algarvio (com 14,3%) e do Lima (com 22,2%) são as que apresentavam no final de dezembro a menor quantidade de água armazenada. Com menor disponibilidade de água estavam também no final de dezembro as bacias do Sado (41,6%), Mira (41,9%), Cávado (47,3%), Ave (52,8%), Arade (54,4%) e Tejo (56,6%).
Já as bacias do Douro (57,1%), Oeste (62,9), Mondego (66,5%) e Guadiana (76,1%) tinham os níveis mais altos de armazenamento no final de dezembro.
Treze das 60 albufeiras monitorizadas tinham, no final de dezembro, disponibilidades hídricas inferiores a 40% do volume total, enquanto sete apresentavam valores superiores a 80%.