O Governo angolano quer aumentar na próxima campanha agrícola a produção de arroz, que é hoje a base de alimentação de grande parte das famílias em substituição do tradicional “funge”, consumindo-se anualmente 500 mil toneladas deste cereal.
Os resultados da campanha agrícola de 2020/2021 e os objetivos para a próxima campanha 2023/2024 foram divulgados hoje num encontro com jornalistas, onde foram também abordados os constrangimentos que o país enfrenta neste setor, fortemente dependente de importações.
Em declarações à Lusa, o ministro da Agriculturas e Florestas, António Francisco de Assis, adiantou que Angola gasta, a cada dez meses, 250 milhões de dólares (cerca de 230 milhões de euros) com a importação de arroz, numa altura em que há escassez de divisas.
Os angolanos consomem 500 mil toneladas de arroz por ano, mas produziram menos de 11 mil toneladas na campanha agrícola 2021/2022, embora, segundo o ministro, exista capacidade de produção deste cereal em todas as províncias.
António Francisco de Assis afirmou que o hábito de comer arroz começou na altura da guerra (que durou entre 1975 e 2002), devido à ajuda humanitária, e foi progredindo, paulatinamente, sobretudo entre as camadas mais jovens e urbanas.
“A nova geração cresceu com o arroz. Por isso, o nosso objetivo é sermos nós a produzir”, declarou.
Em Angola, o consumo da farinha de mandioca (usada na preparação do funge) é predominante na região norte, enquanto no sul se consome mais farinha de milho e outros cereais como o massango e a massambala.
Entre 2018 e 2022, Angola importou 12 mil milhões de dólares (11 mil milhões de euros) de bens alimentares, ou seja, cerca de 2,3 mil milhões de dólares (2,1 mil milhões de euros) por ano, um valor que contrasta com a despesa de 991 milhões de dólares (906 milhões de euros) que o país gastou para produzir neste período (uma média de cerca de 190 milhões de dólares/ano), indicou o diretor nacional das Florestas, Domingos Nazaré.
Uma trajetória que o executivo quer inverter, tendo atribuído ao setor a maior fatia de sempre para o Ministério da Agricultura e Florestas no próximo Orçamento Geral do Estado para 2024, que prevê um aumento de 80% da despesa com este departamento.
“Este setor é fundamental para o desenvolvimento económico e social”, sublinhou o titular da pasta, acrescentando que Angola está a sair de uma economia totalmente dependente do petróleo e diamantes para uma economia mais diversificada.
“Angola é um país essencialmente agrícola, temos terra arável, mas temos necessidades muito específicas e estamos ainda longe de satisfazer”, referiu.
António Francisco Assis salientou que, apesar de o acesso ao crédito e de a lei de terras serem normalmente apontados como os principais problemas da agricultura em Angola, há outros elementos fundamentais para obter resultados, como o capital humano, a organização do mercado e a logística.
“Toda a logística para fazer agricultura em Angola é importada e está sujeita aos choques que acontecem na economia mundial”, sublinhou o ministro, lembrando que praticamente a única fonte de divisas é o petróleo.
Outros constrangimentos ao desenvolvimento do setor, identificados pelo diretor Nacional das Florestas, prendem-se com a produção de sementes, na sua maioria importadas da Zâmbia e do Zimbabué, e dos fertilizantes.