Vinte e quatro mulheres ligadas ao setor agroalimentar estão a participar no projeto INOV RURAL, que está a decorrer na Mêda e em Trancoso com o objetivo de combater a desigualdade de género nesta área e promover a sua independência financeira.
“Foca-se nas mulheres, essencialmente, que trabalham no agroalimentar, que se pretende capacitar para saírem um bocadinho do anonimato e apoiar aquelas que tiverem ambições maiores, como a venda de produtos, a promoção das próprias quintas, de apostar no turismo”, adiantou à agência Lusa Bruno Cardoso, dirigente da InovTerra, que lidera a iniciativa.
Iniciado a 01 de setembro, o INOV RURAL foi hoje apresentado publicamente numa sessão realizada no auditório do pavilhão multiusos de Trancoso.
O ponto de partida para este projeto da InovTerra foi “constatar que as mulheres são figuras de segundo plano na agricultura, onde uma mulher recebe menos fazendo a mesma coisa do que um homem, o que é muito comum no país”.
“Há um problema social identificado e apresentamos esta solução para que evidenciasse que as mulheres fazem muita falta no território, podem ter um papel primordial e importantíssimo e, ao mesmo tempo, podem ganhar dinheiro com isso”, justificou Bruno Cardoso.
O objetivo do projeto é dar autonomia e independência financeira para que as mulheres participantes possam “pensar de uma forma igualitária e de igualdade de género”.
Para tal, é proposta uma solução sistémica que combina capacitação em liderança, gestão e tecnologia, mentoria individual e criação de redes estratégicas que asseguram acesso a recursos e oportunidades.
Entre os impactos esperados pelos promotores está “o empoderamento feminino, o fortalecimento da autonomia económica e social, o aumento da produtividade e competitividade agrícola, bem como a transformação cultural e a inclusão social, contribuindo para comunidades mais sustentáveis e resilientes”.
“Para já, estão envolvidas 24 mulheres (18 em Trancoso e seis na Mêda), mas o objetivo é chegarmos às 80 e conseguir, no final, cerca de 40% de taxa de sucesso. Ou seja, 32 mulheres que se destaquem, ocupando lugares de gestão ou liderança, e tenham capacidade de influenciar e decidir novas oportunidades para outras mulheres”, acrescentou Bruno Cardoso.
O INOV RURAL vai realizar ‘workshops’ de capacitação, coletiva e individual, formações em liderança e marketing, além de proporcionar participações em eventos nacionais e internacionais.
“A ideia é estas mulheres perceberem como é que o mundo lá fora precisa delas e como o produto que têm, seja agrícola ou alimentar, pode ser promovido e evidenciado, criando valor acrescentado e mais-valias”.
Bruno Cardoso justificou a escolha da Mêda e Trancoso por haver nestes dois municípios do distrito da Guarda “uma grande parte” da população que trabalha na área agrícola.
“São uma espécie de laboratório para que possamos começar a desenhar políticas mais abrangentes. Esperamos que nos próximos seis a 18 meses possamos alargar a outros concelhos do país, sobretudo na zona norte”, referiu o responsável.
O INOV RURAL vai durar três anos, até setembro de 2028, e para a sua implementação a InovTerra ganhou uma candidatura ao Portugal Inovação Social, que apoia com 226 mil euros.
A iniciativa conta ainda com os apoios das Câmaras de Trancoso e Mêda, da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, bem como de três investidores sociais.
A Escola Profissional de Trancoso e as Juntas de Freguesias daqueles dois municípios são outros parceiros locais.