Pelos menos dois agricultores venezuelanos foram detidos pelas autoridades depois de terem deitado fora as suas colheitas em protesto pela falta de gasolina para transportar os produtos desde os campos até aos mercados locais.
As detenções foram confirmadas pelo Ministério Público da Venezuela (MP) e ocorreram depois de serem divulgados vídeos pela Internet em que os agricultores deitavam as colheitas de bananas, tomates e cenouras a um rio local, reclamando que não tinham gasolina.
Segundo o Procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, os agricultores são acusados de “lançar produtos ao rio, em violação da Lei de Preços Justos (Boicote)”
As detenções estão a causar indignação, preocupação e frustração nos agricultores, e estão a ser amplamente questionadas das redes sociais locais, com os utilizadores a reclamarem ao procurador que atue com a mesma celeridade contra os responsáveis pela falta de combustível no país.
A situação levou a Federação Nacional de Produtores de Gado da Venezuela (Fedenaga) a divulgar publicamente uma carta exigindo a libertação dos agricultores e pedindo uma reunião com o Procurador-geral da Venezuela.
Na carta a Fedenaga explica que está preocupada porque os produtores estão desesperados por não encontrarem forma de fazer chegar os seus produtos ao mercado devido à falta de combustível e à inexistência de estações de serviço para abastecer os seus veículos de trabalho, muitas vezes longe de aldeias ou zonas rurais, vendo-se obrigados a desfazer-se dos seus produtos nas zonas de produção, longe dos centros de consumo.
“Ora, Senhor Procurador, não há nada mais frustrante para quem trabalha superando obstáculos e dificuldades (financiamentos, estradas, guias de mobilização, serviços, insegurança, preços que compensem a estrutura de custos, rampas, etc.), do que não poder, depois de produzir e cuidar dos seus produtos, tentar, sem sucesso, vender as suas colheitas”, explica o documento.
A Fedenaga explica que talvez as imagens sejam dantescas, que os agricultores se esforçam diariamente para produzir alimentos que se perdem nos campos porque não podem ser levados para os mercados sem o combustível necessário e as colheitas esperam até que este problema seja resolvido.
“Ninguém semeia ou trabalha para ter apenas calos nas mãos, mas para que pelo menos possa viver com dignidade do suor do seu rosto. Tentamos, nesta carta, fazer entender que este problema deve ser tratado e resolvido com urgência (…) pedimos, em nome dos produtores da Venezuela, que eles (os agricultores) sejam libertados e atendidos pelos órgãos governamentais para que possam continuar a semear a terra com alimentos para a Venezuela”, conclui.