No dia de ontem, o Governador do Banco de Portugal utilizou o leite como mau exemplo da alegada não descida dos preços dos alimentos em Portugal, ao contrário do que supostamente acontece na Europa. Importa esclarecer este responsável, tanto mais que o cargo que ocupa deveria implicar um melhor conhecimento das atividades económicas no nosso Pais.
– Entre Fevereiro de 2022 e Fevereiro de 2023 o preço médio do leite ao produtor no continente aumentou para 0,58€/litro, representando uma variação de 60% (0.21€/litro).
– O crescimento do preço do leite ao produtor iniciou-se previamente ao aumento de preço no consumidor, sendo que o crescimento do preço dos produtos lácteos ao consumidor reflete apenas parcialmente o aumento de custos na fileira, desde a Produção até à Industria e à Distribuição.
– Na origem desta realidade está o aumento brutal dos fatores de produção, os quais desde o início de 2021 tem crescido mês após mês, nomeadamente a energia (60%), os alimentos para animais (58%) e os fertilizantes (200%), rúbricas que representam cerca de 90% dos custos operacionais da atividade.
– Recordamos que, de acordo com o INE, o Rendimento da atividade agrícola registou uma quebra acentuada em 2022, na ordem dos -12%. O aumento do preço dos fatores de produção (+27% em relação a 2021) impediu que, apesar de preços à produção mais elevados, tal representasse maior rendimento para os Agricultores.
– Lamentavelmente, não ouvimos quaisquer declarações deste responsável quando, durante mais de 1 ano, entre 2021 e 2022, os produtores de leite e os restantes operadores da cadeia sofreram agravamentos brutais dos seus custos e não obtiveram melhor remuneração da sua produção, acumulando prejuízos insustentáveis.
-Recomendamos ao Senhor Governador uma melhor análise da cadeia láctea, sob pena das declarações que profere, no âmbito do cargo que ocupa, induzirem em erro os consumidores e a Sociedade em geral.
Fonte: Fenalac