Portugal destaca-se entre os países europeus com menor teor médio de sal em produtos de padaria, refeições pré-preparadas e sopas, e de açúcar em refrigerantes, bolos e bolachas, revela um relatório da Direção-Geral da Saúde (DGS).
Os dados do Relatório Anual 2024 do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS) da DGS, divulgado no Dia Mundial da Alimentação, que se assinala hoje, avaliam as melhorias da oferta alimentar a uma maior capacidade de resposta dos Cuidados de Saúde Primários na área da nutrição.
Estes dados resultam da recolha da informação em conjunto de países europeus que têm vindo a monitorizar o sal para as categorias de produtos de padaria, produtos processados à base de batata, refeições pré-preparadas e sopas, e o açúcar nos refrigerantes, bolos e bolachas doces.
Estes dados resultam de um esforço do União Europeia para ter um sistema de monitorização da oferta alimentar em pontos de venda e de UE, que acompanha a evolução da composição dos alimentos nos diferentes países e permite identificar onde se está a progredir mais em termos de reformulação da oferta alimentar e onde há maior necessidade de intervenção, explicou à Lusa a diretora do PNPAS, Maria João Gregório.
Segundo a responsável, Portugal tem vindo a definir “uma estratégia forte na área da reformulação dos produtos alimentares”, especialmente no que se refere à redução de sal, açúcar e gordura saturada nos mesmos.
O documento também assinala o impacto do imposto especial de consumo sobre as bebidas açucaradas, verificando-se uma diminuição da proporção de bebidas com 8 gramas de açúcar por 100 mililitros, de 64% em 2016 para 7% em 2024.
Maria João Gregório salientou que este imposto será “um dos fatores que terá contribuído para este resultado”.
“Este efeito, mantido ao longo do tempo, demonstra o papel decisivo das políticas fiscais na promoção de ambientes alimentares mais saudáveis”, acrescenta o relatório.
A DGS salienta que nas categorias como cereais de pequeno-almoço, iogurtes e produtos de charcutaria, o teor médio de sal e açúcar continua acima das metas definidas, demonstrando a necessidade de continuar os esforços para melhorar a oferta alimentar em Portugal.
O relatório ressalva também que “as medidas regulatórias são mais efetivas do que as ações voluntárias”, e dá como exemplo que as categorias sujeitas a maior supervisão sofreram maiores reduções de sal e açúcar (–25,7%) do que nas categorias abrangidas por compromissos voluntários (–14,8%)”, acrescenta.
Pela primeira vez, o documento apresenta também dados dos cuidados de saúde primários (CSP) na área da nutrição, revelando que, em 2024, foram realizadas quase 137 mil consultas, mais 30% comparativamente a 2022.
Em 2024, o número médio de dias desde a referenciação e a realização da consulta de nutrição foi de 94 dias, refletindo a persistência de atrasos nas consultas fora da maternidade realizadas a utentes, em especial crianças entre os 45 e 59 anos.
Maria João Gregório destacou como positivo o aumento do número de consultas, mas considera que a capacidade de resposta nos CSP “ainda não é adequada”. “Temos ainda um desafio importante na resposta à procura e oferta e na efetivação dessa consulta, que ainda não é o desejável”, disse.
O programa “é crucial” fundamental” dos CSP na promoção da alimentação saudável e na prevenção e gestão da doença crónica num contexto alargado de doenças crónicas que representam a maioria da carga da doença em Portugal.
“A resposta nesta área por parte da nutrição é, de facto, fundamental”, defendeu.
Os dados de monitorização mostram também que nos CSP mantem uma evolução positiva e, que a longo prazo, “poderão representar uma melhoria do desempenho do SNS na identificação de pessoas com pré-obesidade e obesidade e no acompanhamento de doentes crónicos”.
Em 2024, 36,7% dos doentes hospitalizados foram submetidos ao rastreio nutricional, totalizando 206.339 rastreios, mais 25,7% face ao período anterior, indicou a DGS.
“Ao longo dos anos, as melhorias progressivas neste marcador a melhoria da capacidade de resposta dos cuidados hospitalares no rastreio nutricional, mas ainda há espaço para reforçar esta prática”, acrescentou.
Ainda assim, a percentagem de doentes em risco nutricional são semelhantes a outros países e a diferentes estudos populacionais. “Estamos a falar de risco nutricional numa população muito específica, que são doentes que estão em contexto de internamento hospitalar”, comentou.