Trinta anos após a fundação e depois de atravessar um período negro em que se chegou a temer o seu desaparecimento, a Sousacamp tem um plano de recuperação que permitirá salvar o lugar aos 450 trabalhadores das três fábricas e relançar uma das indústrias estrela do país. A empresa de Vila Flor, distrito de Bragança, que recebeu inúmeros prémios e que Marcelo Rebelo de Sousa chegou a destacar como exemplo do que de melhor se faz por cá, tem porta aberta para a sua segunda vida.
A solução encontrada, e que já tem a mão dos três principais credores, Novo Banco, Caixa de Crédito Agrícola e IFAP, é o investimento do fundo de capital de risco CoRe Restart, gerido pela CoRe Capital – vocacionado para a restruturação de pequenas e médias empresas em dificuldades e que já tem provas dadas, por exemplo com a recuperação da Jayme da Costa.
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Com luz verde dos principais credores, foi possível retirar o maior produtor ibérico de cogumelos frescos do pacote de malparado Nata II (detido pelo NB, que tinha em mãos mais de metade dos 60 milhões de dívida) e evitar a liquidação da empresa.
Hoje a vender apenas para o mercado nacional – com uma faturação a rondar os 14 milhões de euros no último exercício -, até 2017 a Sousacamp conseguia exportar, tendo chegado a atingir a fasquia de cerca de 30% da produção em vendas ao estrangeiro. Um rumo que agora se deseja retomar.
Assegurando a recuperação, não só será possível salvar empregos como preservar o tecido económico nacional. “Manter uma empresa que quase tem o monopólio [dos cogumelos frescos] na esfera nacional deveria ser um desígnio de todos”, disse recentemente ao JN José Eduardo Andrade, do Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura e das Indústrias de Alimentação, Bebidas e Tabaco de Portugal (SINTAB). Para os bancos pesa a vantagem de os créditos serem comprados por valores superiores aos que decorreriam de um cenário de venda da carteira.
O próximo passo passa pela aprovação da entrada da CoRe pela Autoridade da Concorrência (dada a dimensão da empresa no mercado), de forma que um gestor profissional possa assumir o leme e pôr em marcha o plano para travar a destruição de valor. Desde o início de 2018, quando a empresa entrou em processo judicial e depois em insolvência, a produção da Sousacamp quebrou mais de 60%, pondo em risco o negócio de uma empresa que abastece diariamente os grandes supermercados. Alguns credores pediram ao administrador de insolvência a abertura de um incidente de qualificação para apurar a existência de insolvência dolosa. A auditoria forense da PwC está a decorrer.
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