Agricultores de Montalegre deixaram de fazer sementeiras, pois já não compensam, e exigem intervenção do Governo.
A caminho de um terreno onde tem centeio semeado, João Rua vai apontando para todo o lado. “Está a ver? Tudo fuçado! Os javalis entram nas terras e dão cabo de tudo”, insiste o agricultor de Codeçoso, Montalegre. Nas outras aldeias do concelho, a mesma coisa. “Já deixei de semear, não vale a pena”, lastima António Pires, em Castanheira.
O ódio ao javali aumenta a cada ano que passa. A população tem aumentado muito. As medidas de controlo têm sido poucas. João Rua, 56 anos, chega ao quase hectare de centeio viçoso e desenrola o lamento: “Lá para junho, quando estiver criado, com grão, virão os javalis esbandalhar tudo. Vão comer, dormir e fazer o serviço (necessidades). Quando vier a debulhadora, nem a palha conseguirá apanhar. Haveria de dar 100 fardos, mas dará metade ou menos. Haveria de dar 30 sacos de centeio, mas dará 10, o que semeei”.
É neste terreno que João Rua recorda o seu pior embate com a realidade dos javardos. “Plantei 800 quilos de batatas e deviam render uns sete mil, mas só apanhei três mil. Tive um prejuízo de dois mil euros”.
Nas terras onde João tem milho, ainda foi pior. “Nem uma cana de lá tirei, quanto mais uma espiga!” “Só vendo é que se acredita”, torna António Pires, 73 anos, que de um campo de milho tirou apenas “50 canas”. “Nunca se viram lameiros fuçados ou centeios e milhos destruídos como agora”, lamenta, enquanto João faz uma comparação: “Há 30 anos, havia 500 javalis, hoje haverá cinco mil ou mais, só em Montalegre”. “Se não tomarem conta de nós, a agricultura no concelho vai acabar”, torna António.
Ambos concordam que era preciso unirem-se todos e irem Lisboa, “bater o pé a quem manda”. Já foram à Câmara de Montalegre falar com o presidente, Orlando Alves. Este está “sensível ao problema e às reclamações”. Foram reportadas ao Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, mas até agora sem sucesso. “A diretora regional do Norte está do nosso lado, mas quando a informação chega aos muros da capital, tudo esbarra e volta para trás”, critica.
Orlando Alves vinca que “o javali é uma praga que destrói tudo à sua passagem”. Antigamente, “em quase todas as casas havia uma espingarda e havia gente com coragem para os enfrentar”. Hoje, “as populações estão envelhecidas e demasiado expostas à voracidade do javardo”.
Mais batidas
Agricultores e autarca defendem que “as batidas ao javali sejam permitidas durante todo o ano”. “Os agricultores estavam entretidos, dinamizava-se a economia local e salvaguardavam-se os interesses destes resistentes”, frisa Orlando Alves.
A Câmara solicitou a harmonização do calendário português de batidas com o galego. “Eles começam a matar em agosto, nós só em outubro. Quando os javalis se sentem perseguidos lá, instalam-se do lado de cá, comem e bebem à tripa-forra e fazem desesperar os nossos agricultores”, conclui.
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