O contexto atual e esperado para os mercados internacionais da carne de porco durante o próximo ano será marcado e influenciado por uma clara incerteza global.
Parece que os exportadores mundiais de carne de suíno continuarão a enfrentar uma série de condicionantes nos próximos meses, tais como os elevados preços da matéria-prima, os custos da energia e de outros abastecimentos, o transporte de mercadorias, os custos da mão-de-obra e, fundamentalmente, o abrandamento da procura por parte da China, principal país importador de carne de porco, como resultado da recuperação progressiva do seu efetivo. A produção de carne de porco na China deverá continuar a recuperar em 2022 e estima-se que aumente 20 a 30% ao longo do ano, segundo o Rabobank, no seu recente “Relatório Anual sobre o Mercado Global de Proteína Animal”.
A evolução global da pandemia Covid-19 também terá uma grande influência, em termos de possíveis restrições à mobilidade internacional, e mudanças nas tendências dos consumidores, com uma transição para uma proteína mais sustentável. Além disso, nos próximos anos, as consequências dos objetivos, políticas e regulamentos derivados do Green Deal europeu terão uma influência significativa sobre os produtores e exportadores europeus, bem como os efeitos do Brexit e de eventuais novos acordos e convenções internacionais.
No domínio da saúde animal, um pilar essencial para a abertura e manutenção dos mercados externos, todos os agentes da cadeia produtiva do setor suíno nos respetivos países devem continuar a interiorizar determinadas medidas em termos de biossegurança que ajudem a minimizar os riscos de doenças devastadoras para o efetivo de suínos, como a Peste Suína Africana (PSA), cujos focos provocam o encerramento automático dos mercados internacionais.
Por outro lado, a atividade do setor suinícola e do setor primário no seu conjunto continuará a ter uma grande responsabilidade na luta contra as alterações climáticas, tendo também em conta que se trata de um setor estratégico fundamental devido à sua função social, económica e estruturante do meio rural, e que o seu objetivo final não é mais do que oferecer produtos seguros, saudáveis e de qualidade para alimentar a população dos cinco continentes.
Para isso, é necessário desenvolver estratégias-chave na internacionalização, promovendo a diversificação de mercados e canais de vendas e a criação de valor acrescentado nos produtos, capaz de gerar reputação da marca, com a aposta no desenvolvimento da inovação, tecnologia e digitalização, ao mesmo tempo que se promovem iniciativas para melhorar a sustentabilidade ambiental, social e económica, oferecendo garantias de bem-estar animal e desenvolvendo ações de formação para que os consumidores e os importadores compreendam, no sentido de satisfazer as novas exigências do consumidor a nível global.
Apesar do abrandamento da procura de carne de porco por parte da China nos próximos anos (que não deixará de comprar em grandes quantidades), haverá, ao mesmo tempo, oportunidades de crescimento, consolidação e desenvolvimento em muitos outros mercados externos, principalmente na Ásia (Japão, Coreia do Sul) e também no Sudeste Asiático (Filipinas, Vietname, Tailândia), onde a procura de carne de porco vai crescer à medida que se recuperam da PSA.
A Coreia do Sul é um mercado interessante, suficientemente grande, que tem um dos maiores consumos per capita de carne de porco no mundo, e que continuará a registar um grande crescimento do consumo de carne de porco nos próximos anos. O aumento da sua produção nacional, embora relevante, não é suficiente para fazer face ao crescimento do consumo, pelo que o mercado suíno sul-coreano tem vindo a recorrer cada vez mais às importações.
As Filipinas são outro destino interessante que apresenta importantes fatores de oportunidade, com uma taxa de autossuficiência de 80% em 2020. Entre janeiro e setembro de 2021, aumentou as suas importações de carne de porco em 70%.
Por seu lado, o Vietname faz parte do grupo dos maiores produtores mundiais e consumidores de carne de porco. Na verdade, é o sexto maior mercado de carne de porco do mundo, em termos de consumo, apenas atrás de mercados como a China, EUA, Alemanha, Rússia e Brasil, mas à frente de mercados como Espanha, Japão, México, França, Coreia do Sul ou Filipinas.
Outros destinos na Oceânia (Austrália, Nova Zelândia), África (Congo, Costa do Marfim…) e América (Chile, México, Colômbia, Peru…) também serão especialmente relevantes devido ao seu esperado rápido crescimento no seu consumo de carne de porco.
Daniel de Miguel
Diretor Adjunto e Internacional INTERPORC
O artigo foi publicado originalmente em FPAS.