Interpera junta em Portugal maiores decisores mundiais para debater o setor, os desafios e as oportunidades
Nos dias 26 e 27 de junho de 2024, a icónica Vila de Óbidos será palco do Interpera, o maior congresso internacional dedicado ao debate sobre a pera. Este evento de renome mundial, organizado pela internacional AREFLH (Assembleia das Regiões Europeias Produtoras de Frutas, Legumes e Hortaliças) e pela nacional ANP (Associação Nacional de Produtores de Pera Rocha), reunirá os principais intervenientes do setor a nível mundial para discutir desafios e oportunidades cruciais para a produção desta fruta que é uma das campeãs de exportações em Portugal. Além dos debates e palestras, o evento proporciona uma plataforma única para networking e troca de conhecimentos entre alguns dos maiores produtores, investigadores, e stakeholders a nível mundial. O evento é aberto ao público com o intuito de incentivar à participação de estudantes, agricultores e outros potenciais interessados na temática. Inscrições e programa aqui.
Portugal destaca-se como um dos principais produtores de pera na Europa, especialmente a variedade Pera Rocha, que é um símbolo da região do Oeste. Segundo o Recenseamento Agrícola do INE de 2019, Portugal possui 11.297 hectares dedicados ao cultivo de pereiras, dos quais 84% estão concentrados no Oeste, abrangendo 2.158 explorações agrícolas. Este setor não só é vital para a economia regional, mas também para a sustentabilidade de mais de 2.500 famílias diretamente envolvidas na produção.
A importância económica do setor é ainda mais evidente quando consideramos que, nos últimos 12 anos, a produção média foi de 174.286 toneladas anuais, das quais 60% são destinadas à exportação. O potencial produtivo ronda as 200.000 toneladas. As exportações têm gerado receitas anuais na ordem dos 85 milhões de euros, refletindo a crescente procura internacional pela Pera Rocha. Em 2022/2023, a Pera Rocha nacional foi exportada para 20 países, com três destinos principais a ocuparem o pódio: Europa (50%), Marrocos (20%) e Brasil (20%).
Efetivamente, a exportação de Pera Rocha tem vindo a crescer, superando 60% da produção nos últimos anos. Para este ano, prevê-se que esses números sejam ultrapassados, embora os dados finais só possam ser confirmados após o término da campanha. A exportação média anual dos últimos 12 anos foi de 100.562 toneladas.
“Ao acolher este congresso, Portugal reafirma seu papel central na produção de Pera Rocha e a sua determinação em enfrentar os desafios do setor com inovação e sustentabilidade”, refere Filipe Ribeiro, Presidente da ANP. “Urge debater medidas de apoio ao setor e a sua adequabilidade aos desafios de sustentabilidade que têm vindo a aumentar de ano para ano, sendo que o Interpera é o evento ideal para promover o debate e a troca de experiências, podendo compartilhar expertise com os líderes mundiais do setor e dar a conhecer a nossa história e património”, acrescenta.
Desafios e Oportunidades para o Setor
Apesar da sua relevância, o setor enfrenta desafios significativos. As condições climáticas adversas dos últimos anos resultaram em quebras de produção acentuadas, com a colheita de 2022 a registar apenas 132.283 toneladas e a de 2023 a cair para 119.000 toneladas, as mais baixas dos últimos 14 anos. Além disso, questões fitossanitárias têm aumentado os custos de produção e, consequentemente, as dificuldades do setor.
O futuro, no entanto, apresenta oportunidades promissoras. A ANP tem vindo a trabalhar com investigadores nacionais com vista ao melhoramento genético da Pera Rocha, visando adaptá-la às mudanças climáticas e aumentar sua resistência a doenças, sem perder suas características distintivas. A promoção internacional também é um foco crucial para a ANP, com esforços contínuos para dar a conhecer as características distintivas da Pera Rocha aos consumidores globais e explorar novos mercados.
Pera Rocha: de Sintra ao Oeste, um legado português
A Pera Rocha tem uma história fascinante que remonta a 1836, quando foi descoberta na quinta de António Pedro Rocha (Sr. Rocha), em Sintra. No entanto, foi a partir dos anos 80 que a região do Oeste, com seu microclima único e solos férteis, se tornou o epicentro da produção desta variedade. Em 2003, a Denominação de Origem Protegida (DOP) “Pera Rocha do Oeste” foi formalmente reconhecida pela Comissão Europeia, reforçando a identidade única deste produto.
A paisagem do Oeste português é marcada pelos vastos pomares de Pera Rocha, que se estendem por cerca de 10.000 hectares, abrangendo 29 concelhos com Denominação de Origem Protegida (DOP). Esta região possui condições ímpares para a cultura da Pera Rocha, tanto em termos edáficos quanto climáticos. A proximidade do mar e a presença das Serras de Montejunto e de Aire e Candeeiros desempenham um papel crucial na amplitude térmica, na baixa ocorrência de geadas tardias e na humidade atmosférica.
As condições edafo-climáticas do Oeste são tão determinantes nas características da Pera Rocha que lhe garantiram o estatuto de Denominação de Origem Protegida. Tentativas de produzir Pera Rocha em outras regiões do país e do mundo não conseguiram replicar as mesmas características do fruto produzido no Oeste, levando ao abandono dessas iniciativas. Este microclima especial, combinado com o saber-fazer local, confere à Pera Rocha características inigualáveis que não podem ser reproduzidas em outras regiões, solidificando a sua posição como um produto verdadeiramente único de Portugal.
Fonte: ANP