O enviado especial das Nações Unidas (ONU) para a Síria afirmou hoje que a “escala de necessidades” no país “está no pior nível desde o início do conflito”, registando recordes de insegurança alimentar e uma crise económica crescente.
Numa reunião do Conselho de Segurança da ONU, Geir O. Pedersen e a representante do Gabinete da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários, Ghada Mudawi, apresentaram um “cenário sombrio” nos seus balanços mensais sobre o conflito.
“À medida que avançamos para 2023, o povo sírio continua preso numa profunda crise humanitária, política, militar, de segurança, económica e de direitos humanos de grande complexidade e escala quase inimaginável. (…) Apesar dos nossos melhores esforços, nenhum progresso substancial está a ser feito para construir uma visão política comum para esse futuro através de um processo político genuíno”, disse Pedersen.
Frisando que muitas das questões no conflito não estão apenas nas mãos da Síria, o enviado da ONU indicou que o país permanece dividido em várias partes, com cinco exércitos estrangeiros e vários grupos armados sírios e terroristas ativos no terreno, facto que tem levado a graves abusos e violações do direito humanitário e dos direitos humanos.
“Este conflito precisa de uma solução política abrangente. Nada mais pode funcionar. Infelizmente, essa solução não é iminente”, lamentou Pedersen perante o corpo diplomático presente no Conselho de Segurança.
Pedersen reuniu-se também com representantes dos Estados Unidos, França, Reino Unido e Alemanha em Genebra, países que pedem aos membros da ONU que apoiem a resolução do Conselho de Segurança de 2015 que defende uma solução política para o conflito.
Cessar-fogo, libertação de todas as pessoas detidas arbitrariamente, realização de eleições democráticas e garantias de regresso para os refugiados são algumas das condições da resolução.
No campo humanitário, Ghada Mudawi traçou um cenário igualmente negativo, afirmando que, “com o início de 2023, o povo Sírio enfrenta o pior ano até agora”, com 15,3 milhões de pessoas – quase 70 por cento da população – a precisar de assistência humanitária.
“É difícil imaginar tais níveis de angústia. As pessoas estão a enfrentar um inverno rigoroso, com chuva, inundações e temperaturas geladas, além de um surto contínuo de cólera. Só no noroeste, 1,8 milhões de pessoas vivem em acampamentos ou locais superlotados, em barracas e com temperaturas abaixo de zero, com acesso limitado ou inexistente a água, serviços de saúde e eletricidade”, disse Ghada Mudawi.
De acordo com a ONU, os esforços humanitários para ajudar noroeste da Síria a enfrentar o inverno permanecem subfinanciados em 78%.
Com os recursos disponíveis, apenas 1,4 milhões de pessoas foram atendidas até ao final de dezembro, deixando 2,8 milhões de pessoas vulneráveis sem abrigo de emergência adequado às duras condições do inverno.
Além disso, o Plano de Resposta Humanitária de 2022 para a Síria teve apenas 47,2% de financiamento, “o nível mais baixo de todos os tempos”, sublinhou Ghada Mudawi.
“A Síria é uma das emergências humanitárias e de proteção mais complexas do mundo. Mais pessoas precisam de ajuda do que em qualquer momento desde 2011. (…) Espero sinceramente que 2023 não seja outro ano sombrio para as pessoas na Síria. Espero que o espírito de unidade neste Conselho prevaleça e que cumpra o seu dever moral de apoiar essas pessoas”, concluiu a representante da ONU.
A guerra na Síria eclodiu em 2011 e deixou mais de 300.000 mortos e mais de 6,8 milhões de refugiados, segundo os últimos dados das Nações Unidas.