Da agricultura aos transportes ou da pesca ao turismo, não é difícil encontrar perdedores no tecido económico. As ondas de calor afetam a produtividade dos trabalhadores, que chega a cair 76% quando o termómetro atinge os 40 oC. Mas, como em qualquer fenómeno extremo, existem também oportunidades
Julho de 2022. Pistas rachadas no Aeroporto de Luton, linhas de comboio deformadas, estradas derretidas. No Reino Unido, as temperaturas ultrapassaram, pela primeira vez, a marca dos 40 oC, numa onda de calor que varreu toda a Europa, de junho a agosto. A temperatura mais alta foi registada na estação meteorológica do Pinhão, nuns impressionantes 47 oC. Foi um verão de seca severa, de incêndios alucinantes, mas é na imagem, distópica, de centenas de comboios cancelados, dezenas de aviões em terra e de filas de camiões de transporte parados, que ganham cor os efeitos económicos das – cada vez mais constantes – ondas de calor. As temperaturas extremas pressionam as redes energéticas, destroem infraestruturas, afetam a produtividade dos trabalhadores, interrompem o regular funcionamento das redes de transporte, secam campos e reservas de água, num custo médio anual estimado de 0,3% a 0,5% do PIB europeu. Os dados que constam num estudo publicado na revista Nature, e liderado por David García-León, scientific officer na Comissão Europeia, mostram, no entanto, que existem realidades regionais distintas, dependendo da exposição económica de cada país aos setores mais vulneráveis, bem como à intensidade e duração das ondas de calor. E aqui, como seria de esperar, Portugal tem um perfil económico e geográfico especialmente preocupante. Nos anos de 2010, 2015 e 2018 – particularmente fustigantes do ponto de vista climatérico –, as perdas económicas terão variado entre 1% e 2,5% do PIB nas regiões do Centro, Alentejo e Algarve. Em 2010, o Alentejo surge mesmo à cabeça como a região mais penalizada em termos económicos – entre as 274 regiões analisadas no estudo a nível europeu –, com especial contributo dos setores da agricultura, construção e serviços.
Tal como acontece com qualquer efeito climatérico extremo, não é difícil encontrar perdedores no tecido económico. A agricultura será, porventura, o mais óbvio. Em 2017, a Agência Europeia do Ambiente afirmava que o “aumento da ocorrência e intensidade destes acontecimentos será prejudicial para a produção agrícola no Sul da Europa, especialmente, culturas típicas do Mediterrâneo, como a vinha, o trigo e a azeitona; os animais serão também expostos ao aumento do stresse térmico”. Num estudo liderado pelo investigador Chenyao Yang, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, os especialistas calculam uma quebra de 10% a 17% na produção de milho em Portugal, até 2100. Já a produção de trigo deverá cair entre 14% a 27%, enquanto no olival são estimadas quebras de 30%.
A Comissão Europeia calcula que o PIB encolha 0,3% a 0,5% por ano devido a temperaturas extremas