A Ordem dos Médicos Veterinários (OMV) defende que a solução para a escassez de profissionais nos Açores passa pela implementação de medidas de atração e fixação de talento, e não pela criação de um novo curso superior na região. Esta posição surge na sequência do parecer negativo emitido pela OMV à proposta de Mestrado Integrado em Medicina Veterinária na Universidade dos Açores, por esta não reunir condições mínimas de qualidade.
A OMV identificou falhas estruturais críticas na proposta, como a insuficiência de corpo docente e a ausência de um hospital veterinário ou a sua sustentabilidade em caso da construção de um, que comprometeriam a formação dos alunos. Perante este cenário, e reconhecendo a carência regional, a Ordem canalizou os seus esforços para desenhar soluções exequíveis e diretas.
Soluções propostas pela OMV para os Açores
Para colmatar de forma eficaz a falta de médicos veterinários no arquipélago, a OMV apresenta três medidas concretas, direcionadas para o setor público e privado:
Criação da Carreira Especial de Médico Veterinário na Região: Esta é a medida considerada mais crucial pela OMV. A instituição de uma carreira com condições salariais e profissionais dignas e atrativas na administração pública regional é o incentivo fundamental para atrair e fixar profissionais altamente qualificados nos Açores. Recentemente foi criada a carreira especial de médico dentista, o que é um sinal evidente da autonomia do governo regional para a criação de carreiras especiais.
Atribuição de Bolsas de Estudo com Compromisso de Permanência: A OMV propõe que a Região Autónoma atribua bolsas de estudo a estudantes açorianos para frequentarem os cursos de Medicina Veterinária já existentes e acreditados no continente. Em contrapartida, os beneficiários assumiriam o compromisso contratual de regressar e exercer a profissão nos Açores durante um período mínimo definido, garantindo o retorno do investimento.
Programas Regionais de Incentivo à Contratação no Setor Privado: Para reforçar a rede de clínicas e serviços médico-veterinários privados de animais de companhia e produção na região, a OMV advoga a criação de programas de apoio específicos. Estes programas poderiam incluir incentivos fiscais ou subsidiação direta para ajudar as empresas locais a contratar e a reter médicos veterinários, melhorando as suas condições contratuais.
Contexto Nacional: Portugal forma, mas não retém
Portugal não tem um défice na formação de médicos veterinários. Com oito instituições acreditadas a oferecerem mais de 600 vagas anuais, o país é um dos da Europa com maior rácio de profissionais por habitante.
O cerne do problema, que também afeta os Açores, é a fuga de talento. Estudo recente (2025) do Conselho de Jovens Médicos Veterinários da OMV revela que 81% dos jovens profissionais já considerou ou considera emigrar, principalmente devido a salários baixos, falta de progressão na carreira e más condições de trabalho. Cerca de 25% dos membros da Ordem acabam por deixar o país ou a profissão.
“Investir na abertura de um novo curso, sem resolver os problemas de fundo que levam os profissionais a emigrar, é um contrassenso”, afirma a OMV. “A solução para os Açores, para a Madeira ou mesmo o Continente está em valorizar a profissão e criar condições atrativas para que os médicos veterinários que já são formados em instituições de qualidade queiram e possam continuar a trabalhar em Portugal.”
A Ordem dos Médicos Veterinários reitera a sua total disponibilidade para colaborar com o Governo Regional dos Açores na operacionalização das soluções apresentadas – a Carreira Especial, as Bolsas de Estudo e os Incentivos ao Setor Privado. Estas medidas representam um investimento mais inteligente e eficaz do que a criação de um novo ciclo de estudos, assegurando serviços veterinários de qualidade à população açoriana e valorizando os profissionais.
Fonte: OMV












































