Em 2023, a seca chegou mais cedo e os seus efeitos antecipam um cenário dramático para os próximos meses, com falta de água e alimentos para os animais. Pastos, pastagens e searas secaram.
O rio Sado está seco desde a nascente até à barragem de Monte da Rocha. O Sudoeste peninsular está a ser flagelado por ondas de calor intensas e duradouras intercaladas com intensa precipitação atmosférica. “Estamos a entrar num território desconhecido”, enfatiza o programa europeu Copernicus, que alerta para “mudanças alarmantes” no clima.
“Vamos ter uma Ovibeja com um senão: seca e muito quente”, avisou Rui Garrido, presidente da Associação de Criadores de Ovinos do Sul (ACOS), durante a sua intervenção na cerimónia inaugural da 39.ª Feira do Alentejo – Ovibeja, na última quinta-feira. Não é um fenómeno pontual e muito menos localizado.
Não há registo de “fenómenos extremos tão frequentes” como os que estão a ocorrer ao longo da última década e na actualidade. Até o montado de sobro e azinho, espécies autóctones que sempre resistiram durante séculos e séculos aos maus humores naturais, “estão em declínio acentuado”, assinala o presidente da ACOS, dando conta do que se passa no tempo presente: “Pastos e searas secaram e palhas e fenos praticamente não existem. Os efectivos pecuários reduzem-se”.
E para que não restem dúvidas sobre o que está a acontecer no Sul do país, diz que aquilo que a agricultura e a pecuária estão a suportar é muito mais grave do que o ano passado. “Direi mesmo: estamos perante uma situação calamitosa”, vinca num tom de voz que não deixa dúvidas sobre a dimensão do drama.
“Estamos em Abril, amigo”
No espaço da feira, as pessoas circulam com dificuldade em suportar a elevada temperatura ambiente. E até os animais (bovinos, ovinos, caprinos e suínos) em exposição no certame mantinham um estranho silêncio, como se nada houvesse no interior do pavilhão que os acolhe. O suor corria pelo rosto das pessoas. O número de visitantes da feira que traziam consigo uma garrafa de água é revelador do efeito térmico. As sombras eram disputadas e os abanicos não conseguiam transmitir uma sensação de frescura possível.
A seca que se associa aos campos do Sul e caleja os alentejanos desconforta como não há memória. “Estamos em Abril, amigo”, lembra ao PÚBLICO Custódio Guerreiro, […]