Prestar um bom apoio às empresas rurais significa adaptá-las às novas oportunidades e desafios específicos que estas enfrentam e superar algumas das dificuldades práticas adicionais que podem surgir no contexto rural. É determinante pugnar para que os Agricultores tenham acesso à informação, à inovação e à tecnologia. O tratamento e disponibilização dos dados recolhidos na atividade agrícola serão uma vantagem competitiva neste século e temos de conseguir capacitar o tecido empresarial para a utilização dos mesmos. Para ajudar as empresas rurais a captarem as oportunidades referidas, são necessárias abordagens mais inteligentes no apoio aos negócios. Tal significa abandonar os modelos que se limitam a intervenções «pontuais», e optar por abordagens que acompanham permanentemente os empresários através de um ecossistema de serviços criado para esse efeito.
Foi este o mote para criar o Centro AGROTECH. A criação do Centro resulta da lacuna existente em deter um espaço aglutinador, de produção agrícola, divulgação de ciência, inovação científica e tecnológica, empreendedorismo resultante de sinergias entre o mundo rural e a comunidade científica e académica e o tecido económico e empresarial. Esta infraestrutura é fundamental para reforçar a ligação entre as novas tecnologias e o mundo rural, duas características que hoje se encontram bem presentes no Fundão, cuja interligação deve ser trabalhada de forma colaborativa e estruturada, por forma a permitir a transferência de conhecimento e tecnologia no setor agrícola, enquanto se promove o seu crescimento de forma sustentável e resiliente.
Para o efeito, o Centro está dotado de um conjunto de recursos essenciais. Exemplo claro, é a disponibilização gratuita de rede LoRa, com cobertura em todo o território do Concelho do Fundão, ou seja, 702 Km2, e que é essencial para a comunicação entre dispositivos em longas distâncias.
É ainda desenvolvido, a partir do Centro Agrotech, e por forma a ultrapassar constrangimentos relacionados com a falta de mão de obra no sector agrícola, o projeto “Fundão Acolhe”. Este é acima de tudo um projeto de capacitação de NPT (Nacionais de Países Terceiros) que permite dar formação a migrantes e refugiados em duas perspetivas, uma mais direcionada para a formação em contexto real (campo experimental), com utilização permanente de equipamentos cujas aplicações são facilmente compatíveis com a IoT, a outra sobretudo de adaptação a um novo país e cultura, bem como ao desenvolvimento de relações sociais nas suas comunidades de acolhimento.
O que se pretende, no fundo, é convolar o trabalho temporário, particularmente caraterístico das atividades agrícolas, em trabalho permanente distribuído ao longo do ciclo anual de produção, mesmo que por diferentes regiões nacionais e empregadores, atraindo população migrante para o mercado de trabalho nacional e canalizando a sua integração para as reais necessidades das empresas locais e regionais.
O planeamento do acolhimento de migrantes, sobretudo nos municípios mais pequenos, mais rurais, do interior do país, pode ser uma oportunidade. E não tenham dúvidas, os nossos territórios recebem mais do que dão quando acolhem refugiados, nomeadamente pelo salto que dão em internacionalização, na capacidade de entender o mundo, na capacidade das nossas instituições e empresas e na sua perceção da importância da responsabilidade social como forma de serem mais competitivas.
Outro instrumento fundamental são as Quintas Experimentais, que funcionam como centro de testes agrários e espaços de visita onde os agricultores podem, em contexto real, ver e experimentar soluções inovadoras na área da agricultura. O intuito das quintas experimentais é capacitar os nossos produtores e agricultores com mais conhecimento e mais inovação, por exemplo, a partir de iniciativas como dias de campo, para que possam transformar este conhecimento e informação em valor acrescentado nas suas propriedades.
Uma das nossas principais preocupações, nos projetos que desenvolvemos nos campos experimentais, é a forma como comunicamos os resultados que obtemos. Em primeiro lugar, porque queremos chegar ao maior número de produtores e, em segundo lugar, porque queremos que a informação possa ser facilmente apreensível, ou seja, numa linguagem mais acessível e menos técnica. Entendemos que a conjugação da informação clara e facilmente apreensível, conjugada com o conhecimento e experimentação obtida nas ações que realizamos nos campos experimentais vão permitir capacitar consideravelmente os nossos produtores. Obviamente, nós estimulamos a participação dos nossos produtores e das associações do concelho e da região. São os nossos principais parceiros. Só faz sentido desenvolver estes projetos se eles forem participados e se, no final da linha, conseguirmos transformar a informação em valor acrescentado para os agricultores
Com estes objetivos em mente, a Feira de Inovação Agrícola do Fundão — que este ano decorre entre os dias 5 e 9 de Outubro — assume-se como momento e espaço privilegiado, não apenas para a participação e divulgação, mas também para a reflexão e a troca de experiências que conduzam a uma eficaz e duradoura capacitação de empresas e agricultores.
Trata-se de um certame que pretende celebrar a Agricultura do ponto de vista do progresso e da inovação e por essa via ter a possibilidade de capacitar os Agricultores e as suas Organizações com mais informação e mais conhecimento. Por outro lado, pretende-se também enaltecer o empreendedorismo. O programa do evento incluiu conferências, palestras, mesas redondas, painéis de debate, momentos de networking e de demonstração de tecnologias inovadoras “aplicáveis ao desenvolvimento de uma agricultura mais inteligente” e contará “com a participação de especialistas, membros da academia, empresas tecnológicas e decisores estratégicos na esfera das políticas de desenvolvimento local e agrícola.
Sejam todos bem-vindos ao Futuro, no Fundão.
Pedro Neto
Vereador da Câmara Municipal do Fundão