Doutora em Biologia Humana pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e professora catedrática na Nova Medical School, a nutricionista esclarece que devemos ter em atenção os pesticidas presentes em todos os alimentos.
O que pensa das notícias que têm sido veiculadas desde a publicação do estudo da “Pesticide Action Network”?
Ontem estive a cruzar estes dados com o Ministério da Agricultura. É uma preocupação que temos de ter: clara e que ajude a decisão. O consumidor tem de ter informação que não vá condicionar o consumo de fruta portuguesa.
Em que medida?
Aquilo que foi divulgado tem a ver com uma preocupação mundial de reduzir a utilização de pesticidas, no geral, e alguns em particular. Este esforço tem mais de 10 anos e esta notícia surge agora porque fizeram uma análise e perceberam que os níveis estavam ligeiramente acima daquilo que era expectável. Ou seja, tudo vem no seguimento de uma orientação para a utilização cada vez menor dos pesticidas e da necessidade de elaboração de alternativas.
Os autores do estudo salientaram que “tem havido um aumento dramático de fruta vendida ao público com resíduos dos pesticidas mais tóxicos que deveriam ter sido banidos na Europa por razões de saúde”. Quais são as características específicas destes pesticidas perigosos?
Estes, em concreto, são persistentes no ambiente, aquilo a que chamamos os poluentes, não são degradados ao longo dos anos. Isto traz-nos um enorme problema de saúde: não só do ecossistema, mas também do Homem. Esta contaminação vai estar na cadeia alimentar e esta é a maior preocupação: fazem o fenómeno de bioamplificação e vão sendo cada vez mais concentrados ao longo da mesma. Estes tipo de compostos é, muitas das vezes, alterador endócrino.
Mas não os ingerimos apenas através da fruta.
Não, estão cada vez mais presentes no nosso dia-a-dia, seja pelas tintas, protetores solares… Estão distribuídos porque são moléculas que inventámos, de utilização imediata e, quimicamente, são pequeninos e lipossolúveis. Passando à questão em concreto da notícia, é importante termos a noção de que a UE faz um esforço, temos vigilância, temos de dar alternativas aos nossos agricultores e entre a fruta portuguesa e aquela que não é, estamos empenhados na primeira.
Como é que os consumidores podem optar pela fruta nacional sendo ‘bombardeados’ com dados semelhantes a estes?
O consumidor tem de entender que a complexidade química de cada alimento é enorme. Se pensarmos na fruta, tem um lado benéfico tão importante que, quando analisamos os benefícios e os riscos, os primeiros são maiores. As notícias são importantes para alertar as entidades que fiscalizam, mas não para deixarmos de comer a fruta e/ou penalizar o agricultor português.
Devemos relativizar as conclusões deste estudo?
Temos de interpretar isto com […]