Um novo estudo científico revelou que o herbicida utilizado para substituir o glifosato pode ser mais prejudicial do que o seu antecessor. A substância em causa, diquato, é amplamente utilizada nos Estados Unidos da América (EUA) em vinhas e pomares sobretudo à medida que o uso de herbicidas controversos como o glifosato e o paraquato tem vindo a diminuir.
A substância ativa diquato está proibida no Reino Unido, na União Europeia (UE), na China e em vários outros países, mas continua a ser comercializada nos EUA, com os cientistas responsáveis pelo estudo a sublinharem que, em 2023, fórmulas com este ingrediente regressaram às prateleiras norte-americanas.
“Do ponto de vista da saúde humana, esta substância é bastante mais nociva do que o glifosato, por isso estamos a assistir a uma substituição lamentável. E a estrutura regulatória ineficaz está a permitir isso”, afirmou Nathan Donley, diretor científico do Center for Biological Diversity, uma organização que defende regulações mais rigorosas para pesticidas, citado no The Guardian.
O novo estudo, que se trata de uma revisão da literatura científica já existente, analisou os diversos danos causados pelo diquato, desde a destruição de bactérias intestinais benéficas até lesões em órgãos como rins, fígado e pulmões.
Além disso, a investigação mostrou que a substância ativa diquato reduz proteínas essenciais na parede intestinal, permitindo que toxinas e agentes patogénicos passem para a corrente sanguínea, provocando inflamações intestinais e sistémicas.
A par disso, a substância inibe ainda a produção de bactérias benéficas e afeta a absorção de nutrientes e o metabolismo energético. O relatório também apontou que o diquato provoca danos irreversíveis nos rins, destruindo membranas celulares e interferindo na sinalização celular, e efeitos inflamatórios semelhantes no fígado e pulmões. A inflamação crónica poderá, segundo os autores, levar a síndrome de disfunção multiorgânica, em que vários órgãos deixam de funcionar corretamente.
O diquato é ainda apontado como neurotóxico, possivelmente cancerígeno e associado à doença de Parkinson. Uma análise realizada em outubro do ano passado pela organização Friends of the Earth, com base em dados da Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA, sigla em inglês), concluiu que o diquato é cerca de 200 vezes mais tóxico do que o glifosato em exposições crónicas.
Apesar dos alertas, a EPA ainda não avançou para a revisão da segurança do diquato, assim como organizações não-governamentais, focadas na regulação de pesticidas, têm dado prioridade a substâncias como o glifosato, paraquato ou clorpirifós — todos eles banidos na Europa, mas ainda em uso nos EUA.
Nathan Donley acrescentou também que as leis norte-americanas sobre pesticidas são fracas e, mesmo quando há vontade política, a agência tem dificuldade em proibir ingredientes perigosos.
“O gabinete de pesticidas da EPA parece operar sob a filosofia de que pesticidas tóxicos são um ‘mal necessário’ e quando se encara a questão com esta perspetiva, há muito pouco que se esteja realmente disposto a fazer”, concluiu Nathan Donley.
O artigo foi publicado originalmente em Vida Rural.