“Temos que olhar para a paisagem, perceber que paisagem temos”, defende Paulo Pimenta de Castro, da Associação de Promoção ao Investimento Florestal, e apela para uma ação “num âmbito mais alargado”.
O flagelo dos incêndios agravou-se este ano em Portugal no início deste mês. Só no fogo que teve início em Odemira, a área ardida abrange cerca de 8.400 hectares, num perímetro de 50 quilómetros. Este incêndio terá começado num parque de merendas, embora se desconheça se foi fogo posto ou negligência. Paulo Pimenta de Castro, da Associação de Promoção ao Investimento Florestal (Acréscimo), considera que as pessoas estão devidamente informada e que “não há forma de as populações desconhecerem que vivemos períodos de risco”.
“Sabemos que eventualmente causas naturais andaram à volta dos 55 por cento, o que quer dizer que há 95% de possibilidade de haver mão humana, não necessariamente crime, e, portanto, está a ser averiguado.
Mas há, apesar de tudo, muita negligência. Pessoalmente, eu tinha fé que depois de 2017 as pessoas tivessem mais consciência dos perigos que correm”, explica Paulo Pimenta de Castro.
O engenheiro silvicultor diz que é necessária alguma capacidade de adaptação à nova realidade das alterações climáticas na prevenção e sublinha: “A questão das limpezas é um mito, quer dizer, é impraticável todos os anos numa população envelhecida e desprovida, grande parte dela, de recursos financeiros, estar todos os anos a fazer um esforço que de pouco serve”.
Paulo Pimenta de Castro defende uma “a nossa ação tem que ser feita num âmbito mais alargado”.
“Temos que olhar para a paisagem, perceber que paisagem temos, que é uma paisagem, grande parte de risco, à exceção dos sistemas agroflorestais alentejanos, do montado de sobro e do montado de zimbro. Nós temos poucas notícias de incêndios nessas áreas, muitas vezes são incêndios natureza agrícola, que são extintos em em meia dúzia de horas, mas no resto do território, sobretudo aquele território de produção de madeira, nós temos de facto um perigo”.
O responsável da Associação de Promoção ao Investimento Florestal defende que as alterações climáticas “tendem a acentuar esse perigo” e que é preciso “olhar a paisagem, não só naquilo que ela é, mas naquilo que ela tem que ser no futuro para a redução do risco”.
“Temos uma quantidade de populações, muitas delas estrangeiras, mas também portuguesas, a quererem se instalar no território. E, portanto, digamos assim, temos aqui um processo de rejuvenescimento em curso, mas o Estado tem que apoiar, reduzindo o risco para que estas pessoas possam manter no território”, destaca.
Paulo Pimenta de Castro manifesta ainda estranheza sobre a origem de certos fogos: “Não só em Leiria, mas, enfim, há situações que claramente, pela insistência da presença do fogo, levantam suspeitas”.