As medidas previstas para o Douro são uma “luz no fundo do túnel”, mas não são suficientes para cobrir as despesas dos viticultores, disse um produtor após reunião no Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP).
“Pelos valores apresentados, só pela uva para destilação, é uma luz ao fundo do túnel. Terá mais vantagens do que no passado que não tínhamos essa medidas (…) É um apoio direto ao agricultor que depende do Orçamento do Estado e também que ter autorização do Ministério das Finanças”, afirmou Manuel Covas, produtor de São João da Pesqueira.
Depois de percorreram algumas ruas da cidade do Peso da Régua a pé, uma delegação de quatro produtores reuniu-se com o presidente do IVDP, que lhes deu a conhecer algumas das medidas do plano que o Ministério da Agricultura e Mar delineou para o Douro.
“Fico mais descansado porque tenho no mínimo a garantia que não vou vender as uvas abaixo de 375 euros. Se eu me candidatar a essa medida, vou receber 50 cêntimos por quilo de uva, que me dá 375 euros, no ano passado vendi a 200, fico a ganhar com isso”, referiu Manuel Covas.
O Ministério da Agricultura e Mar anunciou um plano de ação para o Douro e uma das medidas que está em cima da mesa é a de usar “uvas para vinho a destilar” e tem como objetivos reduzir os excedentes de vinho na Região Demarcada do Douro (RDD), através do escoamento de uvas excedentárias, e assegurar diretamente um rendimento mínimo ao viticultor.
Porque não se sabe a adesão dos produtores, a quantidade de uvas que poderá ir para destilação e o montante final, a medida ainda tem que ser ajustada, mas será operacionalizada pelo IVDP, mediante contrato prévio entre viticultor, vinificador e destilador e prevê a submissão da candidatura até 15 de setembro.
“Falou-nos [o IVDP] da medida da uva para destilação, que está em cima de mesa, vai ser discutida mas será pelos valores que já se falaram de 50 cêntimos por aquilo de uva. O senhor presidente do IVDP falou também noutras medidas adicionais como um incentivo às vinhas velhas, para manter a qualidade que elas produzem”, enumerou Manuel Covas, um dos agricultores que fez parte desta delegação.
Quando se fala no arranque da vinha, explicou, essa parcela será destinada a uma outra cultura adequada à região.
Este produtor lembrou que na sexta-feira vai ser feito o comunicado de vindima, que fixa o quantitativo de benefício para a vindima de 2025, ou seja a quantidade de mosto que cada produtor pode destinar à produção de vinho do Porto.
Manuel Covas insistiu num preço justo para a uva do Douro, até porque, nas suas contas os custos de produção ultrapassam o euro por quilo de uva e, por isso, se vender a 50 cêntimos está a perder. “Nunca cobre os custos que temos”, sublinhou
Já Joaquim Monteiro, também de São João da Pesqueira, disse que a “região vai para o caos” e o “Douro vai ser diferente”.
Viticultores percorreram hoje a pé algumas das principais ruas da cidade do Peso da Régua, acompanhados por um forte dispositivo policial, em protesto contra as dificuldades de escoamento da uva e a venda a baixos preços.
Em Godim ou pela avenida Diocese de Vila Real, os manifestantes deixaram tratores e carrinhas parados na faixa de rodagem, caminharam para o tabuleiro da ponte rodoviária e foram, depois, parando momentaneamente nas rotundas, congestionando o trânsito, passando pela Estação Ferroviária, pela avenida João Franco, de onde subiram para a rua dos Camilos até à sede do IVDP, onde o protesto terminou.
Pelas 11:00, enquanto decorria a reunião dentro do IVDP, os viticultores começaram a ir buscar os veículos que tinham deixado nas entradas da cidade.
Pelas ruas da Régua os viticultores alertaram para a crise que atinge o Douro