Nunca, como agora, foi tão importante valorizar os produtores e os produtos nacionais, tratando-se de um tema estrutural e um imperativo estratégico para qualquer retalhista com visão de futuro e para o país.
Se, por um lado, os consumidores em Portugal estão cada vez mais atentos à origem dos produtos que consomem, o que leva a que, no setor agroalimentar, esta mudança de consciência tenha impulsionado a valorização do que é feito em Portugal, reconhecendo a sua qualidade, origem e produção sustentável.
Por outro, num cenário global de incertezas económicas e crescentes preocupações ambientais e geopolíticas, o aumento do grau de autoaprovisionamento desempenha um papel fundamental na construção da soberania alimentar do país. Ao garantir maior independência dos mercados externos, Portugal fica menos vulnerável a crises internacionais, flutuações de preços e guerras comerciais.
Em ambos os casos, as vantagens vão muito para além da resiliência económica nacional e da garantia de qualidade: comprar e consumir o que é nacional fortalece a economia local, gera empregos, estimula o desenvolvimento e o investimento rural em práticas agrícolas mais sustentáveis, que asseguram alimentos nutritivos e de alta qualidade com o mínimo de intervenção.
Importa ainda referir que a produção nacional é também um dos pilares da sustentabilidade e da descarbonização, pois, ao reduzir a necessidade de importações, contribui para a diminuição da pegada de carbono associada ao transporte de mercadorias, promovendo práticas de consumo mais conscientes e amigas do ambiente.
Contudo, Portugal ainda enfrenta desafios significativos no que respeita à sua autossuficiência alimentar. O país continua dependente de mercados externos no que diz respeito a proteínas vegetais (como cereais e leguminosas) e animais (como carne) para assegurar o fornecimento contínuo de produtos. Para além disso, o reduzido grau de autoaprovisionamento contribui para a necessidade de oferecer ao longo do ano produtos importados, como maçãs, citrinos, frutos da terra, alho, cebola, batata, entre outros.
Para enfrentar este desafio, é fundamental adotar um modelo de colaboração em “tripla hélice” – à semelhança do ADN – que una produtores, retalhistas e conhecimento, estabelecendo um ecossistema de inovação e competitividade, que coopere no sentido de alavancar projetos de fileira, promovendo a produção nacional.
Enquanto retalhista que investe no desenvolvimento da produção nacional e que distribui aos seus clientes centenas de toneladas de produtos produzidos localmente pelos membros do seu Clube de Produtores, o nosso principal compromisso é continuar a apoiar os nossos produtores com objetivo de aumentarem a produtividade e competitividade, com mais capacitação por forma a revertermos as importações e, com isto, levarmos à mesa das famílias “O Melhor de Portugal”.
Ondina Afonso
Presidente do Clube de Produtores Continente