No último minuto da presidência portuguesa o Conselho da União Europeia avalizou, na passada segunda-feira, o acordo provisório alcançado sobre a nova Política Agrícola Comum (PAC) e que muitos definem como “mais verde”. Apesar das questões técnicas desta reforma ainda não estarem definidas já se sabe que, no caso dos pagamentos diretos, 25 por cento do dinheiro será destinado aos eco-regimes, área que no Baixo Alentejo ocupa mais de 15 mil hectares de terra arável e tem aumentado na última década.
Texto Aníbal Fernandes
Segundo os dados do último Recenseamento Agrícola (2019), agora divulgados, a agricultura em modo biológico ocupa 15 812 hectares no Baixo Alentejo, sendo que a grande maioria (11 756 ha) são pastagens. Numa década, o efetivo pecuário de bovinos e ovinos produzidos em modo biológico quase duplicou, passando de cerca cinco mil para quase dez mil cabeças. Em sentido inverso, a produção de suínos caiu de 693 para 70.
De acordo com dados da Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural, em 2019, a superfície agrícola utilizada em Portugal em agricultura biológica foi de 293 213 ha, o que corresponde a um acréscimo, relativamente a 2018 (213 118 ha), de 27 por cento e o número de explorações subiu, no mesmo período, de 5905 para 6408.
Por culturas, em 2018, as pastagens (58 por cento), as forragens (14,2) e as culturas arvenses (1,3) representavam 73,5 por cento da área total de agricultura biológica em Portugal. No entanto a produção para consumo humano continua a ter pouca expressão, ocupando cerca de 25 por cento da área total, principalmente com o olival (8,3 por cento), frutos secos (7,85), uvas (1,71), citrinos (0,12), sendo que as hortícolas representam apenas 1,55 por cento.
AGRICULTURA JOVEM
Rui Garrido, presidente da ACOS – Agricultores do Sul, considera que o modo de produção biológico (MPB) é o “mais sustentável do ponto de vista ambiental e de regeneração dos ecossistemas” e explica que, quer na agricultura, quer na pecuária, “implica a abolição do uso de produtos químicos de síntese – ou seja, que não ocorrem naturalmente -, como por exemplo fitofármacos, medicamentos e adubos de síntese, sendo que os que são autorizados, por serem de ocorrência natural, são menos nocivos para o ambiente, para os insetos, para o solo e, em última análise para o homem”.
Em declarações ao “Diário do Alentejo”, o presidente da ACOS assinala que “o número de agricultores convertidos ao MPB deve-se, em parte, à instalação crescente de jovens agricultores, com uma postura mais crítica e ativa em relação às questões ambientais”. Mas não só. O facto de “a PAC e o Ministério da Agricultura terem vindo a incentivar este modo de produção”, também ajuda, e é de prever “que o novo Quadro Comunitário reforce as ajudas a esta abordagem produtiva”.
No entanto, explica, “a agricultura e a pecuária em MPB geram menos receitas pelo facto de terem quebras, seja a nível da quantidade, seja da qualidade, porque não se consegue combater de forma tão eficaz pragas e doenças tanto nas culturas, como nos animais”. Em resultado disso existem “quebras de produção que, em muitos casos, podem ser muito expressivas”.
E dá como exemplo o olival e a vinha: “quando há uma forte pressão da mosca da azeitona, o fruto apodrece gerando azeites de muito má qualidade”.