A presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração Local e Regional (STAL) defendeu hoje a necessidade de adotar medidas estruturais para prevenir os incêndios florestais e valorizar a carreira dos bombeiros, que enfrentam “condições de trabalho muito difíceis”.
Em declarações à agência Lusa, Cristina Torres sublinhou que “os sucessivos governos têm falhado na criação de uma estrutura nacional eficaz de prevenção e combate aos incêndios”, apontando a existência de “conflitualidade no comando” e a “falta de coordenação no terreno” como fatores que comprometem a resposta em situações de emergência.
“Há conflitualidade no comando, decisões desencontradas e ausência de um fio condutor que oriente todos os operacionais para o mesmo objetivo. Isso cria perturbação no terreno e compromete a eficácia da resposta”, disse.
A dirigente sindical lamentou que, ano após ano, “os problemas se eternizem” e que as medidas anunciadas durante os períodos críticos “não tenham continuidade”.
“Depois dos incêndios, tudo volta ao mesmo”, afirmou.
Cristina Torres destacou ainda as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores das associações humanitárias, referindo que muitos bombeiros profissionais auferem “salários baixíssimos” e “não têm o reconhecimento devido”.
“Esta dedicação pessoal tem de ser valorizada, não só com palavras, mas com práticas concretas”, frisou.
A dirigente apontou ainda as dificuldades financeiras das associações humanitárias, que afetam “a capacidade de organização e mobilização dos seus trabalhadores”.
Sobre o papel das autarquias, a presidente do STAL reconheceu que estas têm responsabilidades na gestão dos territórios, nomeadamente na limpeza dos terrenos, mas advertiu que muitas vezes os proprietários não têm meios para cumprir essas obrigações.
“É preciso criar mecanismos de apoio para quem quer limpar os terrenos, mas não tem condições financeiras [para o fazer]. Um país que se preocupe com as pessoas e com o território encontra formas de o fazer”, defendeu.
Cristina Torres apontou também a desertificação do interior como um fator que agrava o risco de incêndios, defendendo o investimento na agricultura e a reabertura de serviços públicos como escolas, centros de saúde e tribunais.
“É preciso que haja país a funcionar em todo o território, para que as pessoas se sintam atraídas a regressar ou a fixar-se nas zonas rurais”, afirmou.
Questionada sobre eventuais falhas nas estratégias do governo ao combate aos incêndios, Cristina Torres apontou como problemas a falta de planeamento e a ausência de uma resposta antecipada às previsões meteorológicas.
“Há meios que não se deslocam com rapidez suficiente, e isso devia ser previsto e planificado com antecedência”, concluiu.
O STAL emitiu hoje um comunicado em que expressa solidariedade para com os bombeiros, trabalhadores das autarquias e populações afetadas pelos incêndios, enaltecendo o “elevado sentido de missão, coragem e sacrifício” dos operacionais que combatem as chamas.
O sindicato considera que o país enfrenta uma “verdadeira catástrofe” e insiste na urgência de políticas eficazes de prevenção e medidas de Proteção Civil que garantam a segurança de todos os envolvidos.