O Presidente da República afirmou hoje que seria “uma insensatez” avaliar eventuais erros no combate ao incêndio da serra da Estrela nesta fase, admitiu que se pode trabalhar mais a prevenção e pediu respostas europeias no futuro.
“Esse tipo de avaliação não deve ser feito a meio de uma campanha. Ainda hoje há ocorrências na zona da serra da Estrela e pode haver hoje e amanhã. Seria uma insensatez da minha parte estar a fazer avaliações a meio de um percurso”, disse Marcelo Rebelo de Sousa.
O chefe de Estado falava aos jornalistas no final de um ‘briefing’ da sede da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), em Oeiras, Lisboa, que terminou ao início da noite de hoje e no qual também esteve presente o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, e a secretária de Estado da Proteção Civil, Patrícia Gaspar.
Sobre este incêndio em particular, Marcelo Rebelo de Sousa disse, no entanto, que o próprio teve “a noção de que era uma situação muito complexa”, não apenas devido à meteorologia, tendo por várias vezes destacado a imprevisibilidade do vento que os operacionais tiveram que enfrentar no combate, mas também em termos orográficos, com o território a “suscitar dificuldades especiais”.
“Bastava a mudança do sentido do vento, que ocorria em períodos de tempo imprevisíveis, para se ver que aquilo que era um problema sobretudo de um concelho passava a ser de outro concelho. Dir-me-ão: isso já aconteceu noutros fogos. Sim, mas não nas circunstâncias vividas na serra da Estrela. Vamos tentar perceber todos porque é que ali foi mais complicado do que noutras serras”, declarou Marcelo Rebelo de Sousa.
O chefe de Estado deixou ainda um louvor aos autarcas, “que em muitas circunstâncias tiveram que tomar decisões difíceis”, como confrontar as populações com a necessidade de abandonar as suas casas e aldeias.
Questionado também sobre falhas na prevenção, Marcelo Rebelo de Sousa disse que essa será também outra avaliação para fazer “no fim da campanha” de incêndios em curso.
“A prevenção é talvez a área em que é preciso sempre trabalhar mais, porque não é só prevenção de meios, é um problema de cultura cívica, é um problema de comportamentos”, reconheceu o chefe de Estado, sublinhando mudanças nos tempos de combate, com as campanhas a começarem mais cedo e a terminarem mais tarde.
Marcelo alertou para os riscos de cansaço das pessoas perante apelos constantes à mobilização contra os incêndios.
“Eu admito que seja difícil manter uma mobilização neste tipo de campanhas igual ao longo de muitas semanas e de muitos meses, em termos de atenção, de intervenção cautelar, para prevenir. Mas aí estamos a aprender, se realmente os fogos começarem a ter outra natureza, também têm que ser prevenidos de outra forma”, disse.
Sobre a ajuda da União Europeia ao combate a este incêndio e a outros que já assolaram o território nacional este ano, Marcelo Rebelo de Sousa recordou o que já havia sido afirmado pelo primeiro-ministro, António Costa, sublinhando que o ano excecionalmente quente e seco não atinge apenas Portugal, mas toda a Europa, incluindo países estranhos a fenómenos como incêndios florestais de grande dimensão, que obrigaram à dispersão de meios por vários países.
A possibilidade de o cenário se tornar recorrente deve levar a União Europeia a reconsiderar as respostas conjuntas a situações de emergência, defendeu o Presidente da República.
“Aquilo que poderia vir não é necessariamente o que viria se não houvesse esse problema comum e a União Europeia vai ter que enfrentar essa realidade como problema comum para o futuro. Não é só a Espanha, Portugal, Itália, a Grécia, a França às vezes. Não, é mais vasto. Então se é mais vasto isso implica naturalmente soluções como a saúde, na pandemia. Se é mais vasto tem que se encontrar respostas europeias para esse problema”, disse.